16 de outubro de 2013

Livros de Sonetos

Livros de Sonetos
Vinicius de Moraes (1913-1980).  Rio de Janeiro. José Olympio Ed. 8ª ed. 1977. 150 páginas.

Sinopse:
Os sonetos desse livro, publicado pela primeira vez em 1967, foram escritos ao longo de trinta anos, a partir do início da década de 30. Apesar do vasto espaço de tempo que os separa, eles guardam uma semelhança que vai muito além da submissão ao formato clássico: para Vinicius de Moraes, os sonetos eram uma via de acesso ao sublime, mesmo quando essa elevação se processava por meio da linguagem prosaica do cotidiano aparentemente banal.
A leitura deste livro provoca dois tipos de prazer: o que vem da perfeição da forma, exercitada com elegância, e o que se produz na sua ultrapassagem, momento em que a forma é mero condutor para o enobrecimento da realidade.

Ponderação:
Escrever ou falar sobre Vinicius de Moraes é quase como aquela máxima - "É chover no molhado". - Por ele nos transmitir algo além da beleza de superfície. A beleza para o Poeta resume em algo como tristeza, saudade, partida, encontro, desencontro, erotismo, lirismo e amor. Muitos de seus versos fizeram parte de alguns shows e discos, mas sempre fica uma sensação de quero mais. O meu exemplar, que ganhei de uma grande amiga, lá nos anos iniciais de nossa amizade, hoje está com marcas do tempo e do manuseio: - páginas amareladas...
Não por acaso, estamos perto de seu centenário de nascimento. Não por acaso, nem me lembrava da data. Não por acaso, a minha memória trouxe-me os “Soneto de Fidelidade”, “Soneto de Separação” e “Soneto do Aniversário”, das páginas 30, 62 e 74. Outubro, um mês que é um marco na minha vida... 


Soneto de Separação
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.


Soneto de Fidelidade
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama.

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.


Soneto de Aniversário
Passem-se os dias, horas, meses, anos
Amadureçam as ilusões da vida
Prossiga ela sempre dividida
Entre compensações e desenganos.

Faça-se a carne mais envilecida
Diminuam os bens, cresçam os danos
Vença o ideal de andar caminhos planos
Melhor que levar tudo de vencida.

Queira-se antes ventura que aventura
À medida que a têmpora embranquece
E fica tenra a fibra que era dura.

E eu te direi: amiga minha, esquece...
Que grande é este amor meu de criatura
Que vê envelhecer e não envelhece.´




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