29 de março de 2021

A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata

A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata
The Guernsey Literary and potato peel pie society. Mary Ann Shaffer e Annie Barrows. Trad. Léa Viveiros de Castro. Rio de Janeiro. Rocco. 2009. 304 páginas.

Sinopse:
Janeiro de 1946: enquanto Londres deixa para trás a sombria realidade da Segunda Guerra Mundial, a escritora Juliet Ashton busca um novo tema para seu próximo livro. Quem poderia imaginar que o encontraria na carta enviada por um homem desconhecido?
Morador da longínqua Guernsey, ilha britânica ocupada pelos nazistas durante a guerra. Dawsey Adams havia se deparado com o nome de Juliet na folha de rosto de "Seleção de ensaios de Elia". Foi assim que decidiu corresponder-se com a autora. Talvez ela o ajudasse a encontrar mais livros do ensaísta romântico Charles Lamb.
Tem início, assim, uma correspondência intensa: na troca de cartas, Juliet toma conhecimento da Sociedade Literária de Guernsey. De criadores de porcos a frenólogos, eles decidiram que um clube do livro seria o melhor álibi para não serem capturados pelos alemães.
Nas cartas que recebe de Dawsey e, depois, dos outros membros da sociedade, Juliet passa a conhecer a ilha, o gosto literário de cada um e uma famosa receita de torta de casca de batata, além do impacto transformador que a recente Ocupação alemã teve na vida de todos. Cativada por suas histórias, ela parte para Guernsey, e o que lá encontra irá transformá-la para sempre.

Ponderação:
A receita da torta não foi apresentada, só citada. Teríamos testado.
A  expressão: - "Eta! Mundo véio sem porteira." Deve ter sua validade! Quanto mais viajamos no planeta da leitura, mais e mais descobertas geográficas e históricas nos são apresentadas pela ficção.
Essa em forma de troca de cartas, fala da Ocupação Alemã nas Ilhas do Canal, localizada no Canal da Mancha. Uma ocupação menos traumática, porém com um leve toque de humor. Através da leitura das cartas vamos conhecendo a vida dos habitantes da Ilha e a sua Sociedade Literária, drible dado aos alemãs.
Eh! Elizabeth McKenna ganhará uma biografia escrita por Juliet Ashton. Aliado as belezas da Ilha e discussões literárias, ou agindo  tal qual Miss Marple (detetive de várias histórias de Agatha Christie.) e das irmãs Bronty. Tudo com uma boa dose de humor.                                                                                                                                                

Projeto Gemini

Projeto Gemini
Gemini Man The official movie novelization. Titan Books. Trad. Jana Bianchi. São Paulo. Excelsior. 2019. 272 páginas.

Sinopse:
Henry Brogan é um assassino de elite e vira alvo de um agente misterioso que, aparentemente, é capaz de prever todos os seus movimentos. Para seu horror, logo descobre que o homem que está tentando matá-lo é uma versão clonada dele mesmo — mais nova e mais veloz. Agora, em meio a uma caçada internacional, Brogan deve confrontar seu passado, suas escolhas e ele mesmo se planeja sobreviver em um dos thrillers de ficção cientifica e ação mais inovadores dos últimos tempos.

Ponderação:
Romantizar um filme ou transformar um roteiro em uma obra literária? Basicamente, consiste na clonagem humana, utilizada, pelo menos é a visão do insano Verris, para o bem com tratamento da maldade: o mal para preservar o bem. Ele se acha um Deus.
Agentes secretos são mais inteligentes que Brogan, principalmente, na perseguição narrada no capítulo 11, virou uma idiotice. Na real, um teria liquidado o outro, não importa o teor idade, neste caso o da sobrevivência venceria. O capítulo 18 esclarece tudo. Hora da reveladora verdade. Voltando ao início, o primeiro capítulo foi bem lúcido, dar um compacto da história da Guerra Fria entre os gigantes: - EUA e URSS. De forma, em continuação.  
Vale a pena dizer, nossos tradutores poderiam ser  mais cuidadosos na questão do uso frequente de 'palavrões' e outras palavras em texto impresso, voltamos a repetir o que soa bem em um idioma, pode  e sim ocorre não soar bem em português, prejudicando o processo de leitura. Essas  palavras não enriquecem o vocabulário e, sim, empobrece. Parece-nos a falta de um bom dicionário ao lado do tradutor. E, porque não, do autor. As Oficinas de redação criativas não estão orientando corretamente os estudantes na hora de redigir uma boa história.


25 de março de 2021

Minha Adorável Esposa

Minha Adorável Esposa
My lovely wife. Samantha Downing. Trad. Hilton Lima. Porto Alegre. Dublinense. 2020. 384 páginas. 

Sinopse:
Um casamento sólido de quinze anos, do qual nasceram dois belos filhos. Uma boa casa e empregos estáveis.
Poderia ser a descrição de milhares de casais norte-americanos; a não ser por um detalhe: esses dois matam pessoas. É assim que eles mantêm acesa a chama da atração: com noites românticas para escolher as vítimas como em um cardápio de um restaurante. Cada prato tem temperos especiais para despistar a polícia e a imprensa. E, por melhor que seja a refeição, eles sempre vão querer mais.

Ponderação:
Um casamento sólido de uma década e meia; dois belos filhos. Uma boa casa e empregos estáveis. E por trás disso, vem a narrativa em primeira pessoa cheia de insuportável vida de chantagens. O casal pensa que os filhos nada sabem, porém, quando um homem casado sai de terno, tarde da noite, vai a qualquer lugar, quando a esposa e filhos dormem tranquilamente. Quando uma noite, o filho vê o pai saindo, pensa em traição e a começa toda a onda de manipulação. Manipulação que já  havia.
Tobias é o  falso surdo, narrador principal, marido de Millicent, cuja personalidade é tão sinistra, que possa produzir Rory e Jenna em pessoas normais. O casal só é normal da porta para a rua, no interior a vida muda de conceito. Ao ressuscitar a lenda de um antigo serial killer, acabam por produzir problemas emocionais nas crianças. Embora seja um livro sombrio e solar ao mesmo tempo; em parte, retratou bem a fome da imprensa na caça ao verdadeiro culpado. No fim, parece ser o roteiro de uma série qualquer.
Mais ou menos como aquela lenda: - Dormindo ou vivendo com o inimigo!


Moisés Negro

Moisés Negro
Le Petit Piment. Alain Mabanckou. Trad. Paula Souza Dias Nogueira. Porto Alegre. TAG - Experiências Literárias. 2020. 225 páginas.

Sinopse
Não é fácil ser Tokumisa Nzambe po Mose yamoyindo abotami namboka ya Bakoko. A começar por seu longo nome, que significa "Demos graças a Deus, o Moisés negro nasceu na terra dos ancestrais". A maioria das pessoas chama ele de Moisés. Depois, há o orfanato onde ele mora, dirigido por um patife político malicioso, Dieudonne Ngoulmoumako, e onde ele é aterrorizado por dois irmãos órfãos - os gêmeos Songi-Songi e Tala-Tala.
Mas depois que Moisés se vingou dos gêmeos, os gêmeos o colocam sob sua proteção, escapam do orfanato e se mudam para a movimentada cidade portuária de Pointe-Noire, onde formam uma gangue que sobrevive de pequenos furtos. O que se segue é um conto engraçado, comovente e grandioso que narra a jornada trágica de Moisés pelo submundo de Pointe-Noire e o mundo politicamente repressivo do Congo-Brazzaville nas décadas de 1970 e 80.
O retrato vívido de Mabanckou do colapso mental de Moisés ecoa o trabalho de Victor Hugo, Charles Dickens e Brian DePalma em Scarface, confirmando o status de Mabanckou como um dos maiores contadores de histórias. Moisés negro é uma nova extensão vital de seu ciclo de romances sobre Pointe-Noire, que se destacam como um dos projetos ficcionais mais grandiosos e engraçados de nosso tempo.

Ponderação:
Críticas a parte, nosso questionamento persiste: - \como classificar a literatura feita fora do natural meio vivencial do autor? Literatura congolesa produzida fora do Congo e do continente africano? Mergulhar na vida histórica e política de um país é  fácil! - Se estivermos consciente do papel de um bom historiador, autor historiador?
Uma narrativa universalizada centrada na figura de "Petit Piment". Não é privilégio do continente africano, essa figura pode ser encontrada em qualquer grande  centro do planeta, quando os privilégios de uns são maiores que de outros, mesmo na miséria. 
Não é uma leitura que empolga.

 

18 de março de 2021

Minha vida de rata

Minha vida de rata
My Life as a Rat. Joyce Carol Oates. Trad. Luisa Geisler. Rio de Janeiro. Haper Collins TAG. 2020. 384 páginas.

Sinopse
Violet Rue Kerrigan, uma jovem que rememora seu passado após ter sido expulsa da família aos 12 anos. Chocante e mordaz, o livro mostra como ser banida não apenas de sua família, mas também de sua comunidade - parentes, vizinhos e igreja -, força Violet a descobrir a própria identidade e a romper a poderosa ilusão do significado de família, emergindo de seu longo exílio como "rata" para uma vida transformada.

Ponderação:
Dar a entender, aproximadamente e pejorativo na família, o significado do vocábulo 'rato/rata' como dedo duro, delatar,  dedurar, denunciar.  Parece-nos que a vida de Violet é puramente de segredos, em novembro de 1991. A rigidez familiar de uma disciplina imposta, onde os meninos tem uma determinada punição e não punição e, as meninas possuem outras, conservando na quietude de cada quarto.  Levando em conta a condição de imigrantes e seus descendentes; católicos; não admitir qualquer tipo de comportamento inadequado, dentro de uma educação tradicional. Família Perfeita.
Se o primeiro caso fosse devidamente esclarecido e com penalidade legal, não haveria acontecido o segundo, agravado pela morte da vítima. A motivação: - Preconceito. Preconceito contra a riqueza, contra o mundo, do meio social, de si próprio. Preconceito que gera racismo em todas as modalidades da existência humana. 
Pais não preparados em assumir erros na educação dos filhos. Pais que acreditam que os seus são santos, perfeitos e anjos. Violet - assim como centenas, sofrem de todos os tipos de violência: emocional, moral, sexual, educacional e social. A pior violência é imposta por  ela mesma - a emocional - da qual ela não consegue libera-se.
A leitura é tensa por tratar de relacionamento familiar e suas divergentes verdades e segredos. Os Kerrigan constituem uma família infeliz, valendo-se da primeira frase escrita por Tolstoy em seu romance Anna Keriênina: "Happy families are all alike, every unhappy family is unhappy in its own way!"¹ No final, temos uma sensação de uma narrativa alucinatória, quando há mais fatores imaginativos do que reais.




¹  - Anna  Keriênina de Liev Tolstoy, publicado em formato de livro, pela primeira vez em 1877.  A frase inicial do romance: - "Todas as famílias felizes se parecem, cada família infeliz é infeliz à sua maneira."
                                - "Todas las familias felices se parecen unas a otras; pero cada familia infeliz tiene un motivo especial para sentirse desgraciada."