29 de novembro de 2020

O Dia em que a poesia derrotou um ditador

O Dia em que a poesia derrotou um ditador 
Los días del arco-íris. Antonio Skármeta. Trad. Luís Carlos Cabral. Rio de Janeiro. Record. 2020. 224 páginas.

Sinopse:
Durante uma aula de filosofia em Santiago, Nico presencia seu professor ser levado pela polícia. Prisões eram frequentes no Chile de 1988. No mesmo ano, Pinochet, cedendo a pressões da comunidade internacional, anuncia um plebiscito pelo qual a população decidirá se ele continuará no governo. Adrián Bettini, um renomeado publicitário, envolve-se na campanha de oposição e vê a chance de transformar a história de seu país.

Ponderação:
Democracia é o exercício da convivência com as ideias de diferentes procedências. Dia 05 de outubro de 1988: Brasil apresentava ao mundo sua Constituição cidadã, ativa  há 32 anos. Chile realizava o plebiscito que definiria o futuro do País e poria fim ao regime autoritário de Pinochet. O povo chileno votou no sorriso.
O pano  de fundo é a política autoritária imposta pelo General para a 'Campanha do Não', isto é, a oposição; podendo-se rir, quando um maluco invade a casa do publicitário Bettini, que precisa criar uma peça publicitária de só 15 minutos para a televisão contra os 15 anos do governo, e, quer transformar uma valsa de Strauss, no slogan da campanha do 'Não'. Ao mesmo tempo, mostra-nos as angústias do sumiço de um ente querido, as ameaças e a morte. Ou a si próprio. Tudo embalado pela filosofia clássica: - 'Ser ou não ser, es a questão'. - Música, teatro e literatura. Conflitos internos e externos.


20 de novembro de 2020

O Segredo da Livraria de Paris

O Segredo da Livraria de Paris
The Paris Secret. Lily Graham. Trad. Elisa Nazarian. São Paulo. Gutenberg. 2020. 206 páginas.

Sinopse:
Valerie tinha três anos de idade quando foi levada de Paris para Londres, durante a Segunda Guerra Mundial. Agora, aos vinte anos e sozinha no mundo, ela se candidata, com nome falso, a uma vaga de emprego na livraria do avô, Vincent Dupont. Ele é seu único parente vivo e a única pessoa que sabe o que realmente aconteceu com seus pais biológicos. À medida que passa a conhecer melhor o ranzinza e reservado Dupont, Valerie vai puxando o fio da própria história.
Mas essa história não se completa: qual seria o segredo devastador que Vincent estava disposto a tudo para esconder?
Esta é uma comovente história de amor, medo e coragem em tempos de guerra. O Segredo da livraria de Paris vai levar você para essa icônica cidade dos anos 1940 e 1960. Você vai chorar de emoção, vai rir, se admirar e perder o fôlego em diversos momentos dessa leitura impossível de ser interrompida.

Ponderação:
Uma pequena livraria sobrevive em meio ao horror da ocupação de Paris pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial. O pano de fundo para a história de sobrevivência e de amor aos livros e das pessoas que eram protetoras de alguns livros. Uma história que mostra até onde vai a persistência e desagrado ao regime imposto aos cidadãos. Vicent Dupont possui humor ácido e é crítico, potencialmente, inverso aos críticos em obras literárias e seus autores durante os anos 1950 e 1960. Extremamente solitário até conhecer Valerie. Ambos possuem segredos. Segredos envoltos na névoa da ocupação e defesa de Paris durante a guerra. É hilária a discussão de ambos referentes a obras e autores. Com o tempo, os segredos são revelados e aceitos como verdade. Era essa verdade necessária em ser dita, no caso avô e neta. Ela imaginou que ele a odiava, mas, justo o contrário! Para protegê-la do preconceito reinante contra filhos de francesas com soldados nazistas (e, até, aliados), mandou-a para a Inglaterra. Ela descobre por fim, a verdade sobre sua mãe e as razões do amor proibido. O resultado da guerra é a existência eterna de vítimas; não há perdedores e ganhadores. Assim sendo, no mundo há milhares de Valerie e Vicent, em qualquer grau de parentesco e  amizade.


12 de novembro de 2020

Loucamente Apaixonada na Livraria dos Corações Solitários

Loucamente Apaixonada na Livraria dos Corações Solitários
Crazy in Love at the Lonely Hearts Bookshop. Annie Darling. Trad. Cecília Camargo Bartalotti. Campinas. Verus. 2020. 320 páginas.

Sinopse:
Novo romance da série A Livraria dos Corações Solitários, sobre a vida dos funcionários da livraria que por uma razão ou outra desistiram do amor e, ainda assim, o encontram quando menos esperam.
Cheia de tatuagens e com o cabelo cor-de-rosa, a dublê de pinup Nina adora bad boys — quanto mais cara de mau, melhor. Apesar dos receios de seus amigos, ela acredita firmemente que o amor verdadeiro só tem uma forma: selvagem, intenso e pontuado por brigas tempestuosas — como na história de Heathcliff e Cathy, o casal angustiado de O Morro dos Ventos Uivantes. E ela não vai se contentar com nada menos que isso. Mas anos de encontros marcados por aplicativo não trouxeram nada além de caras esquisitos e paqueras banais, e Nina não está nem um pouco mais perto de encontrar o amor.
Quando um homem de seu passado entra na livraria, Nina sabe que não tem nada a temer: o garoto mais nerd da escola se tornou um analista de negócios tedioso que combina o terno com a gravata, sem chance de fazer seu coração bater mais rápido. O que só mostra quão pouco Nina sabe sobre bad boys, analistas de negócios e o próprio coração..
Este é mais um romance delicioso da série A Livraria dos Corações Solitários*, sobre a vida dos funcionários da livraria, um “alegre bando de desajustados”, que por uma razão ou outra desistiram do amor e, ainda assim, o encontram quando menos esperam.

Ponderação:
Parece-nos que Mark Twain estava equivocado, quando cunhou a frase - "Um clássico é algo que todos querem ter lido, mas ninguém ler." - Pois bem, já temos mais um exemplo na ficção da obsessão pelo clássico "O Morro dos ventos uivantes"** de Emily Brontë. Agora, a vez de Nina O'Kelly ficar caidíssima por Noah, um, 'pasme', ex-colega de escola, aquele eterno sofredor de preconceito, que deu a volta por cima, transformando-se num bem sucedido analista de negócios. Eles estão, em continuação, acompanhados por Tom, Verity, Posy e Sebastian. Mais um "Saber de livros sem ler",




* A Pequena Livraria dos Corações Solitários, em 28-01-2018
   Amor Verdadeiro na Livraria dos Corações Solitários, em 30-04-2018
** O céu está em todo Lugar, em 23-11-2013


8 de novembro de 2020

Querido Edward

Querido Edward
Dear Edward. Ann Napolitano. Trad. Lígia Azevedo. São Paulo. Paralela. 2020. 304 páginas.

Sinopse:
Numa manhã de verão, Edward Adler, os pais e o irmão mais velho embarcam em um voo de Nova York, a Los Angeles, junto com outros 183 passageiros. Entre eles há um prodígio de Wall Street, um veterano ferido voltando do Afeganistão e uma mulher de espírito livre fugindo de um marido controlador. Algumas horas depois, no entanto, essas histórias são interrompidas bruscamente pela queda do avião. Todas, menos uma: Edward foi o único que sobreviveu.

Ponderação:
12/06/2013
7h45 – Aeroporto. Embarque e os problemas de cada um. “Os civis se comportam de um jeito meio caótico que o irrita.” “Todos estão conscientes, enquanto o avião deixa o solo.”
9h05 – Voo sob New York. Conhecendo o pessoal: Flórida; Linda; Benjamim; Mark Lassio; Verônica; Crispin Cox; Susan; Jane, Jordan e Edward Adler; Lacey e John Curtis; Lolly.
10h02 – Voo. Logística, sintonia, dramas pessoais. “A matemática era a piscina mais profunda à vista” – e ele entrou de cabeça nela.
10h17 – Voo.
11h16 – Voo. Pavor na chuva. Em alguns momentos da narrativa, a relação humana entre as personagens, principalmente, entre os irmãos, lembra “O céu está em todo lugar” (The Sky is everywhere) de Jandy Nelson. 
11h42 – Voo.
12h22 – Voo.
12h44 – Voo.
13h40 – Voo.
14h04 – Voo. Turbulência.
14h07 – Voo. Tensão na cabine de comando.
14h08; 14h09; 14h10; 14h11; 14h12...

12/06/2013
Noite. Horas depois do acidente.

13/06/2013
17h – Atualização para imprensa e familiares. Um ‘único’ sobrevivente. Hospitalização. Conversas em luto. Virar ‘herói’ da noite ao dia. Conflito de emoções – externas e internas. Viver a partir disso.

Julho de 2013
A insensibilidade se extinguiu. A dúvida persiste. Dever ou escolha? Obrigação legal ou Obrigação amorosa? O que pensar?
Abordagem literária com relação à realidade: - Harry Porte X Edward – Sobrevivência.

05/09/2013
Início de um novo ciclo. Ou o recomeço depois da tragédia.
Esse capítulo traz uma boa, importante, reflexão: - depois de qualquer catástrofe, trauma, perda, o que fica se torna mais importante do que aquele ou aquilo considerado importante.

Janeiro de 2014
Seis meses. Audiência e outros acontecimentos teimam em fazer não esquecer. Conseguiu, em parte, deixar de se angustiar.
Outra reflexão: - “Para que serve um monumento, no caso, o local do acidente? Para amigos e familiares perpetuarem a do luto? E, depois, de não mais existem familiares e amigos?

Junho de 2015
A normalidade para o mundo, não ao sobrevivente, que continua perturbado, por ter pertencido a uma lógica familiar desequilibrada.

Dezembro de 2015
Sobrevivente. Desconexão do mundo. Segredos jurídicos. Segredos. A árvore do lado de fora do consultório, representa mutação? Transformação? Segurança? Raiz? Insônia e sonambulismo incidental poderão encontrar respostas? Preconceito em relação ao sobrevivente? Por que da inveja? Se o mundo interno está destruído.

Janeiro de 2016
Lacey diz: “Fiquei pensando que a aposentadoria é um pouco como quando alguém que a gente ama morre. Faz você pensar em como quer levar a vida.”
Tesouro descoberto. Já distingui a recuperação das emoções e não.
Desenterrando o tesouro, faz com que os fios sejam conectados ou reconectados. Realça a falta de diálogos entre tios e sobrinho em meio a tragédia. Deixando-os se levar por opiniões profissionais, esquecendo seus próprios autoconhecimentos. O desejo de outros que ele não pode e nem deve seguir.

Março de 2015
A investigação aos questionamentos encontrado dentro do tesouro, começa e termina numa boa e sólida conversa.

Abril de 2016
A retomada da consciência de si próprio.

Maio de 2016
Rumando à normalidade.

Julho de 2016
A vida caminha para encontra o rumo certo, adequados aos desejos e sonhos que precisam ser realizados no limite de cada.

Dezembro de 2016
Aprender a conviver com o fato pelo resto de sua existência.

Junho de 2019
Seis anos depois. Edward e Shay são sobreviventes de diferentes tragédias, um ajudou o outro sem perceber.


4 de novembro de 2020

Quarto de Despejo

Quarto de Despejo - Diário de uma favelada
Carolina Maria de Jesus (1914 - 1977). São Paulo. Ática. 10ª ed. 2014. 200 páginas. Ilustração de Vinicius R. Felipe. Prefácio de Audálio Dantas (1918 - 2018)

Sinopse:
Do diário da catadora de papel Carolina Maria de Jesus surgiu este autêntico exemplo de literatura-verdade, que relata o cotidiano triste e cruel da vida na favela. Com uma linguagem simples, mas contundente e original, a autora comove o leitor pelo realismo e pela sensibilidade na maneira de contar o que viu, viveu e sentiu durante os anos em que morou na comunidade do Canindé, em São Paulo, com seus três filhos.
Ao ler este relato-verdadeiro best-seller no Brasil e no exterior- você vai acompanhar o duro dia a dia de quem não tem amanhã. E vai perceber que, mesmo tendo sido escrito na década de 1950, este livro jamais perdeu sua atualidade.

Ponderação:
Há muito, desejávamos realizar a leitura desse livro. Em parte pelo fato de ter sido descoberto - os originais - por Audálio Dantas. Somente, neste ano, foi possível. Não iremos alçar comentários, já tem o suficiente para o teor sociológico presente na obra.Vamos apenas, mencionar a questão política eleitoral. Ela não alterou em nada - em campanha eleitoral - os senhores e senhoras políticos se transformam em 'amigos guardiões e salvadores' dos pobres. Porém, passadas as eleições, voltam ao pedestal de chumbo.