30 de março de 2019

Tônia Carrero e Cecil Thiré

Tônia Carrero: Movida pela paixão
Tania Carvalho. São Paulo. Imprensa Oficial do Estado de São Paulo. 2009. 276 páginas no formato digital. {Coleção Aplauso}

Cecil Thiré: Mestre do seu ofício
Tania Carvalho. São Paulo. Imprensa Oficial do  Estado de São Paulo. 2009. 316 páginas no formato digital. {Coleção Aplauso}

Sinopse:
Maria Antonietta Portocarrero Thedim nasceu no Rio de Janeiro em 23 de agosto de 1922. Graduada em Educação Física, formou-se atriz na França, onde foi viver com o artista plástico Carlos Arthur Thiré, pai de seu único filho.
As confissões, os segredos profissionais, a unidade familiar. Parte da história do teatro brasileiro e a história recente do país.
Com o intuito de preservar a memória cultural brasileira, o livro apresenta uma de nossas atrizes, em momentos de sua carreira e de sua vida.

Tônia faleceu em 03/03/2018 aos 95 anos.

Cecil Thiré produtor, diretor, ator, tradutor e até mesmo coreógrafo, faz e fez de tudo em teatro. No cinema, participou do Cinema Novo à chamada pornochanchada – dirigiu, atuou e fez roteiros. Os críticos até hoje elogiam sua obra-prima esquecida, O Diabo Mora no Sangue, e seu episódio de Ibrahim do Subúrbio. Em televisão, começou como galã, passou pelo humorismo, como ator e diretor, e fez alguns vilões memoráveis, como Mário Liberato de Roda de Fogo e o assassino Adalberto de A Próxima Vítima. Além disso, é professor, há mais de 20 anos. Gosto de me definir como um intermediário. Sou tradutor, diretor, ator, produtor, eu estou entre a obra e o espetáculo. Mesmo quando sou professor eu estou entre a arte e o aprendiz. Cecil é filho de pais ilustres; a mãe é a lendária Tônia Carrero, e o pai foi o pintor, artista, pioneiro em quadrinhos, jornalista e diretor de cinema Carlos Thiré (1917-63) que, na Vera Cruz, dirigiu Luz Apagada e Nadando em Dinheiro. Atualmente, com 75 anos, visto que nasceu em 28/05/1943.

Ponderação:
Depois de ler essas duas obras biográficas, conscientemente fica difícil avaliar o mérito de seus personagens títulos. Visto que suas histórias estão entrelaçadas pelo laço familiar e pelo amor a arte de representar. Não há dúvida que estão ligados aos acontecimentos do teatro brasileiro como o da história do país.


Cecil Thiré faleceu em 09/10/2020 aos 77 anos. 

19 de março de 2019

A Velocidade da Luz

A Velocidade da Luz
La velocidad de la luz. Javier Cercas. Trad. Sérgio Molina. São Paulo. Globo. 2018. 272 páginas.


Sinopse:
Espanha, final dos anos 80. Um convite para lecionar em uma cidade no interior dos Estados Unidos muda para sempre a vida de um jovem aspirante a escritor. Lá, ele conhece Rodney Falk, homem cínico, culto e marcado por um terrível segredo de guerra. A partir desse encontro, os personagens - tão complexos e humanos - desenvolverão uma relação tumultuosa que culminará em um enfrentamento trágico da realidade e os seus demônios.

Ponderação:
 - Livro encarna várias possibilidades de análise.
 - Reflexões  filosóficas bem evidentes.
 - Situações especificas e, em alguns momentos, extremas possibilitam levar uma pessoa, inicialmente, normal a fazer.
 - O poder do amor, da amizade, da arte em suas variadas formas.
 - Reflexão sobre o valor da vida.
 - Lado bom e ruim da fama e sucesso.
 - A guerra não deixa ninguém limpo. Ninguém sai dela dançando valsa de Strauss. Dizem alguns, nos últimos  anos, da necessidade de revisar a história dos anos 1960 até nossos dias. Não há como corrigir os efeitos maléficos da ação destruidora dos promotores da guerra. Nem para os vencidos. A perda foi devastadora. Nem ao menos disseram àqueles rapazes a razão daquilo tudo. Enquanto lia as interpretações de Rodney no Vietnã, duas músicas e filme vieram a nossa lembrança. Ambas do final de nossa infância. - "Era um garoto que como eu amava os Beatles e os Rolling Stones" e "What a Wonderful World", sendo a segunda incluída no filme "Bom Dia, Vietnã", ela faz um contraste com a violenta farsa que nos foi apresentada ao mundo, no que seria a salvação ideológica daquele povo.


Esclarecimento:
"Era Um Garoto Que Como Eu Amava os Beatles e os Rolling Stones" é uma canção de rock gravada, em 1967, pela banda Os Incríveis. A canção é a versão, em português, escrita por Brancato Jr. da original italiana C'era un ragazzo che come me amava i Beatles e i Rolling Stones, composta por Franco Migliacci e Mauro Lusini, interpretada por Gianni Morandi, em 1966. Fala de um jovem guitarrista, que teria sido convocado para a Guerra do Vietnã.

"What a Wonderful World" é uma canção escrita por Bob Thiele e George David Weiss. Gravada pela primeira vez por Louis Armstrong, em 1967. A intenção inicial era que servisse como antídoto ao carregado clima racial e político nos EUA. As coisas simples do dia-a-dia e o tom esperançoso e otimista em relação ao futuro. Em 1988, a gravação original de Louis Armstrong de 1968, foi apresentada no filme 'Good Morning, Vietnam' (Bom dia, Vietnã).








11 de março de 2019

O Pulo do Gato

O Pulo do Gato
Claudio Junqueira. São Paulo Letras do Pensamento. 2018. 224 páginas. 

Sinopse:
Um belo dia, ao pensar sobre a dissertação, veio o insight: que tal resgatar a memória d’O Pulo e passar a limpo essa história tão rica para a Rádio Bandeirantes e para São Paulo? Levei a empreitada adiante: falei com o Zé Paulo, que gostou e apoiou a iniciativa; com o então diretor de Jornalismo da Bandeirantes, José Carlos Carboni, infelizmente já não mais entre nós, e que gentilmente me deu sinal verde para a tarefa. Com o aval de ambos, levei quase um ano até escolher o melhor caminho para concretizar essa ideia, via mestrado, iniciado em 2013 e concluído em 2015. Foram mais de 30 entrevistas, dias inteiros passados no Centro de Documentação e Memória do Grupo Bandeirantes de Comunicação, aferição de dados, áudios, vídeos e acesso a pesquisas inéditas que o Ibope fornecia à rádio com os índices de audiência do matutino, que comprovam a liderança d’O Pulo entre os jornalísticos do período da manhã. Entrevistados também contribuíram ao fornecer fotos e documentos essenciais para a pesquisa. Algumas imagens raras, nunca antes publicadas, como a do narrador esportivo Osmar Santos, fornecida pela família do falecido jornalista Jair Brito, ilustram esta obra. Nesse período de trabalho na emissora, que me fez ´mergulhar´ no encantador mundo da radiodifusão e vivenciar as mais diferentes sensações provocadas pelo imediatismo e agilidade deste veículo centenário e me deparar com boa parte da história brasileira e internacional. Este livro é uma singela homenagem a José Paulo de Andrade, aos que junto com ele fizeram e fazem o programa, a todos os pioneiros do rádio, aos ouvintes e um registro histórico de O Pulo do Gato, um dos principais programas jornalísticos do dial brasileiro. Alô São Paulo! Bom dia Brasil!

Ponderação:
 - "Cada dia que nasce é uma esperança que se renova."
 - "Que o dia seja produtivo."
 - "Acorda São Paulo, acorda Brasil! Folhinha virando."
 - "Bom dia, estamos começando mais um 'O Pulo do Gato'".  
 - "Está começando mais um dia na vida do brasileiro."
 - "Olha a hora! Olha a aula!"
 - "Boca no trombone, falou, repercutiu."
 - "Empresa séria não discute, resolve."

Quem com mais de 50 anos ou está entre os mais jovens não tenha ouvido, em algum momento os bordões acima!?...
Sim! São de José Paulo de Andrade, no comando de 'O Pulo do Gato', matutino no ar a quase 46 anos. As manhãs são melhores depois da  audição de sua voz.
Para quem foi adolescente ou jovem adulto naqueles meados dos anos 1970 e 1980 é uma grata satisfação ler - 'lembrar' - de nomes como Newton Flora (tivemos o prazer, de conhecer e partilhar corredores escolares, Miriam, sua filha.). Luiz Carlos Gertel, Amorim Filho e seu 'pássaro de prata', Pedro Luiz Ronco, Gonçalo Parada e tanto outros que fizeram parte da família ouvinte da Rádio Bandeirantes, sem jamais terem conhecimento desse quesito, que nós, nomeamos com intimidade. Rever a imagem de seu ídolo, sendo ele o motivo de seguirmos a carreira jornalística.
Em 200 páginas, passa-se a limpo a história do programa e apresentador  com maior longevidade no rádio brasileiro. É um livro que estava faltando na bibliografia dos estudantes de jornalismo e na prateleira da História da Comunicação e Jornalismo  do país.
Não somos de recomendar livros, mas esse, super recomendamos.



7 de março de 2019

As Extraordinárias Cores do Amanhã

As Extraordinárias Cores do Amanhã
The astonishing color of after. Emily X. R. Pan. Trad. Suria Scapin. São Paulo. Universo dos Livros. 2018. 480 páginas.

Sinopse:
Leigh Chen Sanders é uma garota meio asiática, meio americana, e precisa lidar com um fato: no mesmo dia em que beijou Axel, seu melhor amigo (e paixão secreta há anos), sua mãe se suicidou. Além disso, Leigh tem plena certeza de que a mãe virou um pássaro. 
Ao viajar rumo a Taiwan para encontrar os avós maternos pela primeira vez, ela está determinada a também encontrar a mãe, o pássaro. Nessa busca, a garota precisa enfrentar fantasmas antigos ao descobrir segredos da família e desenvolver uma nova relação com seus avós ao mesmo tempo em que lida com o próprio luto. 
Alternando entre o real e o fantástico, o passado e o presente, a amizade e o romance, a esperança e o desespero, As Extraordinárias Cores do Amanhã é uma história maravilhosa e profunda sobre como se encontrar a partir dos laços com sua família, sua arte, sua dor e seu amor.

Ponderação:
Leigh tem temperamento egoísta, herança de Brian e Dory. Até a literatura usa bem o valor de: - "a voz do sangue fala mais alto." - Mas o abandono do cultivo e manutenção da cultura familiar - motivada - por segredos e não aceitação de seguir rumos diferentes daqueles impostos pela tradição, consiste o desenvolvimento narrativo. Leigh encarna a paranoia de estar em luto. Um luto que não aceita. Entre o limite - real ou fantasia X verdade ou mentira. Através de flashback, ela vai descobrindo ou descortinando uma vida solitária e não compreendida.
Difícil falar sobre 'depressão', aparentemente a sociedade não aceita. Os médicos não dão muito crédito às queixas do paciente. Só quem convive com uma pessoa depressiva sabe do drama. Já que a doença envolve sistema neurológico, do humor, superatividade ou preguiça, troca o dia pela noite. É uma doença controlável, mas detectar requer uma certa habilidade, visto que os sintomas são parecidos com outras patologias neurológicas já conhecidas. Depressão precisa de companheirismo constante e aceitação do próprio doente.


 

4 de março de 2019

O Coração é um Caçador Solitário

O Coração é um Caçador Solitário
The Heart is a Lonely Hunter. Carson McCullers (1917 - 1967). Trad. Sonia Moreira. São Paulo. TAG / Cia das Letras. 2018. 392 páginas.

Sinopse:
Numa cidadezinha do sul dos Estados Unidos, no final dos anos 1930, os efeitos da Grande Depressão ainda se fazem sentir. Personagens como Biff Brannon, dono do restaurante que nunca fecha na cidade; a garota Mick, forçada a passar abruptamente da infância à idade adulta; o agitador marxista Jake Blount; o médico negro Benedict Copeland, que atende de graça os pacientes pobres e luta pela emancipação racial, enfrentam, além da carência material, o flagelo da solidão e da incomunicabilidade.
O centro desta narrativa, em que cada capítulo assume o ponto de vista de um personagem, é o mudo John Singer, um homem triste e solitário, que por sua serenidade enigmática é visto como um santo pela comunidade.

Ponderação:
Temos o seguinte:
- Spiros Antonapoulos = mudo. Propenso à obesidade e com desequilibro mental de aprendizado.

- John Singer = mudo. Culto para os padrões do local. Conhecedor da linguagem labial.

Ambos são amigos, a comunicação entre eles é através de libras. Dois solitários no mundo hostil. Um dia! Sempre assim. Um dia, Antonapoulos é  enviado para o asilo; amizade bruscamente interrompida. Agora a história da comunicabilidade dos habitantes da cidade vem a tona. Todos, de uma maneira ou outra, encontram-se na marginalidade da vida, onde os sonhos são apenas sonhos. Os desejos são apenas desejos. As dificuldades em externar esses sonhos e desejos permitem avaliar a grandiosidade narrativa. Num texto agressivo, sensível, filosófico, um pouco doutrinário.
John Singer torna-se uma espécie de herói, um confessor. Não consegue entender, aquilo das palavras que são ditas ao seu ouvido, ele acaba por ser gentil e caridoso tanto para brancos como para negros.

- Charles Parker = primo  de Antonapoulos.

- Biff Brannon = dono do New York Café. Marido de Alice. É um bom observador do ambiente. Vai desabafar sempre que pode com Singer.

- Jake Blount = agitador de plantão. Calado quando sóbrio, mas super falante após uma garrafa de uísque. Fala para os iletrados sobre a teoria marxista sobre os direitos deles e da injustiça dos ricos, porém não é compreendido nem mesmo por Singer.

- Mick Kelly = menina sonhadora. Apaixona-se por Singer, após ele adquirir um rádio. O que ela não entendeu.

- Benedict Mady Copeland = médico e pai  de Portia. Extremamente culto! Por ser o único negro em condições de auxiliar seus semelhantes negros, se acha melhor de qualquer branco. É um grande leitor. Considerava possuidor do 'genuíno propósito', sem definir o que seja. Na Festa de Natal pronuncia um discurso falando sobre Karl Marx, ao seu povo, pouquíssimos entenderam suas palavras. Porém um homem branco, presente à festa, compreendeu ou  fez que sim; John Singer.

John Singer em sua inadequada situação, tenta entender os segredos de cada um. Seu olhar contribui no apaziguar das almas inquietas de cada pessoa. O guardião dos segredos.

O dialogo entre Jake e Copeland sobre o trabalho, capitalismo; o certo e o errado esta a beira do humor negro. É hilário, é como ouvir uma discussão entre os partidários do PT e PCB.

A comunicabilidade entre eles leva a uma incomunicabilidade decorrente da solidão vivida por cada um, onde dentro do possível, encontramos compreensão, discriminação e a procura do amor. No fim a dura realidade prevalece e nada é perpetuado.