30 de dezembro de 2014

Lenda, Mitos e Mentiras

As Mais Famosas Lendas, Mitos e Mentiras da História do Mundo
Legends, lies and cherished myths of world history. Richard Shenkman. Trad. Antonio Carlos Vilela. São Paulo. Prestígio. 2002. 208 páginas.

Sinopse:
Num divertido passeio pela história do mundo, desde a Guerra de Troia à Segunda Guerra Mundial, o autor apresenta personagens e eventos fictícios e reais de forma humorada e documentada, exibindo revelações contundentes que provam que boa parte da história é realmente 'uma fábula sobre a qual as pessoas concordam'
Um livro instigante, polêmico e eclético. Você vai ver que o que nos ensinaram a respeito das grandes revoluções que mudaram o mundo, das religiões e dos reais interesses camuflado pelo domínio da fé, dos destemidos heróis, dos grandes inventores e seus inimagináveis inventos, afinal muito do que conhecemos ou que passamos a conhecer pelos meios de comunicação deve ser questionado.
A verdade pode ser dolorosa, mas deve ser encarada.

Ponderação:
Só uma coisa, quem olha o quadro de Pedro Américo sobre a Independência do Brasil ver uma casinha. Pronto! Ela foi invenção do pintor, ela nunca existiu de fato, até que, um desconhecedor da História de seu país, vai lá e cria a tal casa...



29 de dezembro de 2014

Dorothy

Dorothy and the Green Gobbler of Oz
Romeo Muller. New York. Scholastic Book. 1982. 64 pages.

Sinopse:
Dorothy and Toto are being corried back to Oz by a giant green turkey! They will meet old friends and make new friends too. It's a dangerous adventure that takes them all high up a mysterious his army of toy soldiers.
Who will save Dorothy and her friends? Who will save the Land of Oz?
And 
All new adventures in the Land of Oz! / Dorothy in the Land of Oz / Thanksgiving in the Land of Oz [Based on the television special.]

Ponderação:
Adaptação do livro e do filme "O Mágico de Oz", ou melhor, recontar a história que continua sem entendimento para mim. Esse livro me foi um presente e, também, é da parte de meu aprendizado do idioma inglês.




28 de dezembro de 2014

São Paulo de Nossos Avós

São Paulo de Nossos Avós
Raimundo de Menezes. São Paulo. Saraiva. 1969. 168 páginas. [Coleção Saraiva nº 253]

Sinopse/Ponderação:
Não consegui encontrar mais dados sobre o autor, mas no papel de historiador, ele nos remete a uma São Paulo cuja existência já não há nenhum traço urbanístico do que era em 1852. O que conhecemos, ou melhor, sabemos são os relatos deixados no documentos oficiais e na escrita literária de homens, que viveram ou nos visitaram. O livro nos contempla até mais ou menos 1920. 

"1872 foi um ano do grande progresso que alvoroçou o paulistano. Inauguraram-se os lampiões a gás e logo depois as "diligências por trilhos de ferro."

"A Casa da Fundição, que ficava exatamente onde hoje está instalada a Caixa Econômica Estadual e onde até há pouco tempo funcionou a Secretaria da Fazenda, tinha sido fechada por ordem do Governo. Pois bem: foi nesse prédio que se adaptou uma sala de espetáculos, a que seu deu o título pomposo de Casa da Ópera."

"E Nuto Santana termina a explicação de uma maneira assaz pitoresca: "Esse lugar chamado José Brás é o Brás atual, que nada tem que ver com Brás Cubas.""

O primeiro automóvel que percorreu nossa cidade pertenceu ao irmão de Santos Dumont, o pai da avião.



A História de Natal

A História de Natal
The Story of Christmas
Geradine McCaughrean. Trad. Ruy Jungmann. Rio de Janeiro. Ediouro. 1993. 32 páginas. Ilustração de Helen Ward.

Sinopse/Ponderação:
"Desde o inicio a ideia esteve na mente de Deus. E, quando achou que chegara o momento, Ele acendeu uma nova estrela no céu - uma vela de aniversário para marcar o começo..."
Assim se inicia a história do milagre do primeiro Natal, maravilhosamente recontada e ilustrada neste livro cativante que tem encantado crianças e jovens de todos os países.
Quando comprei foi distrair os filhos de, algumas, minhas amigas, quando eles ficavam lá em casa como, também, minhas primas pequenas. É muito bonita esta edição. É uma narrativa simplificada e desenvolvida através do Evangelho de Lucas e Matheus.



La Televisión

La Televisión 
La Télévision. Jean-Philippe Toussaint. Trad. Josep Escué. Barcelona. Editorial Anagrama. 1999. 191 páginas.

Sinopse:
El libro cuenta el verano en Berlín de un historiador de arte, al que han concedido una beca para escribir un ensayo sobre Tiziano y Carlos V, y que a la vez toma una decisión importantísima: dejar de ver la televisión.

Ponderação:
O narrador-personagem começa descrevendo seu ensaio sobre Carlos V e Tiziano, enquanto toma a decisão de deixar de ver televisão. Esta sozinho em Berlim, enquanto a esposa grávida passa férias de verão junto com o filho, na Itália. Neste contexto, esperava-se uma análise detalhada ou do ensaio ou do fato de ter deixado de assistir televisão. Passa as cento oitenta páginas descrevendo sua ociosidade e a pseudo preocupação de terminar de escrever o tal ensaio.  Terminar por comprar mais um aparelho de televisão.



27 de dezembro de 2014

On The Railways

On the Railways
John Forbes, with illustrations by John Barry. Londres. Ladybird Books. 1972. 52 páginas.

Ponderação:
Não vou falar muito sobre o texto, já pela capa entendemos que trata dos trabalhadores nas ferrovias, princi-palmente, as inglesas. A Modernização até 1970. Faz parte de meu aprendizado do idioma inglês. 


23 de dezembro de 2014

El Lector

El Lector
Der Vorleser / The Reader. Bernhard Schlink. Trad. Joan Parra Contreras. New York. Vintage Espanhol. 2008. 203 páginas.

Sinopse:
La historia está contada por el personaje principal, Michael Berg, dividida en tres partes. 
Es el año 1958; Michael, un joven de quince años, se enferma camino a su casa cuando Hanna Schmitz, veintiún años mayor que el, lo ve, le ofrece ayuda, lo limpia y se asegura que llegue a su casa sano y salvo. Michael pasa los siguientes tres meses ausente del colegio luchando contra la hepatitis.
Michael va a visitar a Hanna para agradecerle su ayuda, allí se da cuenta de que se siente atraído hacia ella. Avergonzado, luego de haber sido descubierto espiándola mientras se vestía, escapa corriendo; sin embargo, vuelve unos días más tarde.
Michael, entusiasmado, la visitará regularmente, y comienza así una relación primordialmente sexual. Desarrollan como ritual bañarse y después hacer el amor, antes de lo cual ella pide que le lea en voz alta, habitualmente obras de literatura clásica, entre las que se encuentran la Odisea y La dama del perrito. A pesar de sus encuentros que cada vez se hacen más frecuentes, permanecen emocionalmente distantes, lo que contrasta con su cercanía física. 
Siete años más tarde, se ve a Michael, que es estudiante de leyes, siendo parte de un grupo de estudiantes que reciben la tarea de observar juicios contra criminales de guerra del Holocausto. Un grupo de mujeres que habían servido como guardias para la SS estaban siendo juzgadas por permitir que trescientas mujeres judías murieran en el incendio de una iglesia que había sido bombardeada durante la evacuación del campo de concentración que estaba a su cargo, alegando haberlo hecho para su supuesta protección. El incidente había sido plasmado en un libro escrito por una de las supervivientes que, al terminar la guerra, había emigrado a Estados Unidos y que ahora era la testigo principal del juicio.
Para sorpresa de Michael, Hanna es una de las juzgadas, lo que lo lleva a una montaña rusa de emociones que se encuentran y desencuentran: se siente mal por haber amado a una criminal implacable y a su vez está consternado por la voluntad que tiene Hanna de aceptar toda la responsabilidad, por haber supervisado a otros guardias aunque haya evidencia que pruebe lo contrario.
Durante el juicio, Michael se sorprende al enterarse de que Hanna es analfabeta, lo que demuestra que ella no podría ser la culpable de todos los crímenes que se le imputaban ya que no era la encargada de llenar los reportes que hacían los de la SS cuando ejecutaban a sus prisioneros; también sale a la luz que Hanna tomaba prisioneras débiles o enfermas y les pedía que le leyeran en voz alta antes de enviarlas a ejecutar en la cámara de gases. Michael se pregunta si Hanna lo hacía para darles a las prisioneras unos últimos días meramente tolerables o si las mandaba a morir para que no revelaran su secreto.
Michael, intentando apaciguar de alguna forma sus emociones, comienza a registrar en una grabadora su propia lectura de libros, grabaciones que le envía a Hanna. Los años pasaron, Michael tiene una hija resultado de un matrimonio fallido; por su parte.

Ponderação:
Qual verdade se deva acreditar? Na que é contada pelo vencedor? Na que é contada por meio do Marketing político-histórico-cultural de alguém no poder? Na que é contada pelos olhos da vítima, que para sobreviver, ver monstros em todos os lugares? É necessário revisitar o passado sombrio de nossos pais e avós? Esse passado vivido por eles foi o que realmente eles queriam ter vivido?

Deixe a neve cair

Deixe a Neve Cair
Let it snow. John Green, Maureen Johnson e Lauren Myracle. Trad. Mariana Kohnert. Rio de Janeiro. Rocco. 2013. 335 páginas.

Sinopse:
Na noite da Véspera de Natal, uma inesperada tempestade de neve transforma uma pequena cidade num inusitado refúgio para insuspeitos encontros românticos. Em Deixe a Neve Cair, bem-sucedida parceria entre três autores de sucesso, John Green, Maureen Johnson e Lauren Myracle escrevem três hilários e encantadores contos de amor, com direito a surpreendentes armadilhas do destino e beijos de tirar o fôlego. 

Ponderação:
Foi ideia de mamãe comprar esse livro, por conta da capa com Snaigės (Cristais de Gelo), bem, bonita. Mas com textos nada bom. Não sei se os autores são péssimo na arte de escrever ou se a tradutora não soube equacionar o problema cultural-linguístico  do tema. Pode-se dizer que seja tudo, menos solidariedade natalina, ao ver, olhos de leitora, esses textos regem ao egoísmo e individualismo de cada personagem, mostra a comemoração do Natal do lado mesquinho da sociedade, até com certa semelhança com o Scrooge de Dickens, sem o sentimento de remorso. Boa ideia o fio condutor ser o Homem Alumínio e o Waffle House, mas isso não construiu uma boa e inesquecível história.


22 de dezembro de 2014

Conto de Natal

Conto de Natal
Charles Dickens (1812-1870). América do Sul. 1988. 96 páginas. {Biblioteca de Ouro da Literatura Universal, vol. 10}

Sinopse / Ponderação:
Qual é o título desta obra: Um Conto  de Natal? Cântico de Natal? Conto de Natal?  Visto que inúmeras publicações, com, de alguma maneira, intitulado de forma a parecer diferente, mas é a mesma história. Texto escrito em menos de um mês para pagar dívidas, retrata a era vitoriana. Consagra seu autor e acabou por perder seu título mesmo.
O enredo traz a figura de Scrooge, um rabugento homem de negócios de Londres, sovina e solitário, que não demonstra um pingo de bons sentimentos e compaixão para com os outros. Não deixa que ninguém rompa sua carapaça e preocupa-se apenas com seus lucros. No frio natalino, ele é visitado pelo fantasma de Marley, seu sócio, morto há algum tempo. Esta visita muda a sua vida.
Com esse enredo e o é familiar a todos. Ganhou várias versões no cinemas, televisionado, adaptado para o teatro, para crianças, transformado em desenho animado e até em histórias em quadrinhos.
Recentemente, lendo Um Amor para Recordar, de Nicholas Sparks, deparei-me com uma interpretação diferente, a qual transcrevo aqui:
  "De qualquer forma, ele escreveu aquela peça, chamada de O Anjo do Natal, porque não queria continuar vendo o velho clássico de Charles Dickens no palco, Um Conto de Natal. Na sua concepção, Scrooge era um herege, que chegou à redenção apenas porque viu fantasmas, e não anjos - e quem disse que os fantasmas haviam sido mandados por Deus? Quem disse que ele não voltaria a ter seu comportamento pecaminoso, já que os fantasmas não vieram diretamente do céu? A peça de Dickens não deixava isso exatamente claro - afinal, é uma questão de fé - mas Hegbert não confiava em fantasmas que não eram explicitamente enviados por Deus, e esse era o maior problema com Um Conto de Natal. Há alguns anos ele mudou o final da peça - utilizando sua própria versão, na qual o velho Scrooge se torna um pregador, viajando para Jerusalém para encontrar o local onde Jesus falava aos apóstolos. Não funcionou muito bem - nem mesmo para a congregação, que assistia ao espetáculo com olhos arregalados - e o jornal havia publicado comentários como "Apesar de interessante, não era exatamente a peça que nós todos conhecemos e amamos...".


21 de dezembro de 2014

Os Melhores Contos de Natal

Os melhores contos de natal
Vários Autores. São Paulo. Círculo do Livro. 1997. 275 páginas.

Sinopse / Ponderação
Bom, são 16 textos enfocando o período natalino, nada de tão extraordinário que mereça uma análise aprofundada. Dois deles são clássicos: A Missa do Galo de Machado de Assis e o famoso Cântico de Natal de Charles Dickens. 



Amor de Natal

Amor de Natal
Seven Stories of Christmas Love. Leo Buscaglia (1924-1998). Trad. Eliana Sabino. Rio de Janeiro. Record. 1987. 110 páginas.

Sinopse:
Sete episódios de Natal que marcaram a vida do autor, mostrando que o espírito e a magia dessa festa podem florescer durante todos os dias do ano. A paz, a alegria e a boa vontade podem ser praticadas em todos os momentos.

Ponderação:
O livro tem Ilustrações de Tom Newsom que de alguma maneira interage com a narrativa de cada um dos sete capítulos, onde o autor mostra a importância dos Natais na vida de cada ser humano, neste caso, ele próprio. São situações que viveu, pessoas com quem conviveu e lições que aprendeu em cada uma das mais marcantes celebrações de Natal que viveu, desde os sete anos até o Natal em que quase morreu. E no início de cada capítulo, uma citação que tem a ver com o Natal que será contado mostra algumas belas mensagens.


14 de dezembro de 2014

Feliz Natal

Feliz Natal 
Claudio Varela. São Paulo. Sapienza Editora. 2004. 73 páginas.

Sinopse / Ponderação:
Mais um de minha louca coleção natalina. Isto é, sou maluca pelo tema, aprendi com meus pais a valorizar essa magnifica época. O livro traz fotografias em preto e branco, e a cada uma delas, uma citação de uma personalidade de cada área do saber e pessoas famosas com sua reflexão sobre Natal...



Feliz Natal para Você!

Feliz Natal para Você!
Gabriela Nascimento Spada e Souza. São Paulo. Celebris. 2004. 65 páginas

Sinopse / Ponderação:
É... O Natal está no ar!
As cores do Natal dão um charme aos lares.
Reviver e imortalizar o verdadeiro significado da celebração do nascimento de Jesus: o amor e igualdade entre todos!
OK! Não dar para continuar a fazer a sinopse, difícil percorrer as 65 páginas sem, antes, admirar as fotografias e depois mergulhar no pequeno texto, que pode trazer à tona recordações de outras celebrações, não só Natal, mas as de significado muito grande ao nosso coração: o Amor...



11 de dezembro de 2014

História e Literatura

Novamente, postagens um pouco diferenciadas, novo curso de teor teórico literário, A História de São Paulo através da Literatura, com a mestra Mariana Estevam. Curso ministrado no ILP - Instituto do Legislativo Paulista, na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo


A História de São Paulo através da Literatura

Bem, estou tentando formular frases e orações para compor esse, último, tópico da série de cursos por mim realizado. Confesso, a expectativa superou a mim mesma, pois desta feita foi-me possível compartilhar um pouco de meus conhecimentos apreendidos e aprendidos nesta minha curta existência.

A seguir os endereços de links apresentados:

https://www.youtube.com/watch?v=oOoE47BqaMg = Vídeo feito com base em  "Eles eram muitos cavalos" de Luiz Ruffato. Detalhe, o som da narração está muito baixo, dificultando o entendimento do texto para quem não conhece a obra.


https://www.youtube.com/watch?v=H7HKc0-gLEM = Vídeo com uma entervista com Luiz Ruffato.


https://www.youtube.com/watch?v=A3pBJTTjwCM

29 de novembro de 2014

Celebremos La Navidad

Celebremos la Navidad con villancicos, regalos y paz.Deborah Heiligman. National Geographic, USA, 2008. 32 páginas.

Sinopse / Ponderação:
‘Celebremos La Navidad’ é o clássico livro que deseja dar uma dimensão universal sobre o tema escolhido e acaba por tornar-se um básico/parcial. Ricamente ilustrado.
No item referente a 6 de janeiro, Dia de Reis – quando terminam os festejos natalinos – em alusão aos Magos que seguiram a estrela. Aqui, têm-se a visão positiva dos presentes, mas trouxe-me a lembrança o comentário feito pela Cilene – no tempo em que ela passou na Espanha, num intercambio: - “Dia 6 para as crianças que não tiveram um bom desempenho escolar, sempre havia para elas um pedaço de carvão.” Quer dizer, todas as crianças ganham o seu presente.



Canaã

Canaã
Graça Aranha (1868-1931). Aguiar Editora. 1974. 224 páginas.

Sinopse:
Numa pequena colonia alemã do Espirito Santo, Milkau e Lentz vivem o desafio de construir uma nova vida em terra estrangeira. Canaã retrata a saga dos imigrantes europeus no Brasil no início do século e seu sonho de encontrar a "terra prometida". Mostrando o confronto entre visões de munto antagônicas e a violência dos preconceitos raciais, é uma obra fundamental para a compreensão da cultura brasileira.

Ponderação:
Epa! Precisou mais de trinta anos para que eu pudesse entender esse clássico. O autor analisa aspectos da sociedade brasileira com uma precisão surpreendente. As informações encontram-se nas entrelinhas. Ao compartilhar com nós, leitores, cenários panorâmicos através de suas descrições minuciosas, mas seus diálogos inteligentes e muito bem elaborados fazem com que as ideologias da época – patrióticas ou não – sejam delicadamente dissecadas de um ângulo diferente. 
Assim, patriotismo cego, muito destruiu, e é chegada a hora de nos considerarmos uma única espécie, por que tampouco importa a origem, somos todos seres humanos e parte de uma única nação.



Marley

A Very Marley Christmas.
John Grogan. Harper Collins, New York. 2008.

Sinopse / Ponderação:
John Grogan tinha a mina de ouro em casa, Marley. Depois de ‘Marley e Eu’, ele nos presenteou com “A very Marley Christmas”. São 32 páginas de pura alegria. Só quem possui um quatro patas sabe, realmente, o que eles são capazes de fazer. Com frases curtas de fácil entendimento.
O livro está para literatura infantil natalina. Mas a página, contendo Marley brincando com as tintas de Baby Louie, é hilária.
O texto é ilustrado por Richard Cowdrey.



Aos meus Amigos

Aos Meus Amigos
Maria Adelaide Amaral. São Paulo. Globo. 2008. 334 páginas. 2ª ed.

Sinopse:
A amizade, porém, se aqui rima com 'fraternidade e solidariedade', não rima necessariamente com felicidade. A história do romance, baseada em fatos reais da vida da autora, se articula em torno de um leito de morte. Na verdade, de um leito de suicídio, o do escritor e publicitário Leo. É o seu suicídio que, no agitado ano de 1989, mobilizará a retomada da 'velha turma', que vivera intensamente os ideais da esquerda nos anos da ditadura militar brasileira (1964-1985). Um reencontro feito também de desencontros, inclusive políticos. Após o suicídio de Leo, seus amigos reúnem-se para velar o corpo e tentar manter viva sua memória, enquanto procuram os originais de um livro que teria deixado. Romance ágil, grandemente baseado em diálogos, mais do que em descrições, os fatos e personagens são, então, construídos e reconstruídos por referências e reminiscências, como nas conversas reais.


Ponderação:
Tencionava ler ao mesmo tempo que via a série (em DVD), mas deixei de lado o assistir, acredito na possibilidade de ser outra história com os mesmos personagens. A falsa expectativa na busca de um livro, que na verdade eram só páginas escritas para o filho o 'que de fato aconteceu'. Mostra a vida de cada pessoa, vamos dizer, como era na juventude e como é na maturidade. A vida psicológica de cada um é muito frágil.

" - Sem dúvida, temos diferenças. A grande vantagem da democracia é o exercício das diferenças!"




27 de novembro de 2014

O Fiel e a Pedra

Imagem da Internet, a edição que li é da década de 70.
O Fiel e a Pedra
Osman Lins


Sinopse
O Fiel e a Pedra recorre ao simbolismo do confronto entre o fiel da balança e a pedra de moinho para apresentar a luta de um homem essencialmente ético contra um inimigo poderoso, num mundo pouco afeito à retidão de caráter.
No Nordeste dos anos 30, Bernardo, no limiar dos quarenta anos, perdeu um filho e deixou o emprego público para não compactuar com desonestidades. Sem alternativa e quase sem nenhum dinheiro, aceita a oferta de um amigo e vai, com a mulher, administrar a venda de uma propriedade distante.
O amigo, entretanto, ao descobrir que a mulher era adúltera, passa para o nome do irmão, Nestor, algumas propriedades, a fim de salvá-las da partilha de bens do divórcio, e acaba tendo uma morte suspeita. 
O confronto entre Bernardo e o novo patrão é sinuoso: Bernardo só tem a certeza de nunca ter traído as próprias convicções. Nestor, mais que destruir o adversário, quer cooptá-lo. Essa luta desigual é narrada numa estrutura de capítulos curtos que produzem, no conjunto, um relato mítico do confronto arquetípico entre o bem e o mal.


Ponderação:
Mais um de leitura obrigatória.




26 de novembro de 2014

O Coronel e o Lobisomem

O Coronel e o Lobisomem
José Cândido de Carvalho (1914-1989). José Olympio. 1976. 312 páginas.

Sinopse / Ponderação:
O romance narra as peripécias do Coronel Ponciano de Azeredo Furtado, fazendeiro da região de Campos dos Goitacazes. Um personagem muito curioso, em cuja fala mistura termos jurídicos a jargão militar, além de expressões e sabedoria típica de gente criada na lida de gado. O Coronel entra em caçada de onça e enfrenta lobisomem, embora nem sempre com a coragem que suas falas sugerem que ele tem. Quando não está em aventuras desse tipo, o Coronel fica de olho num rabo-de-saia, na procura de uma esposa para comandar a casa de Sobradinho, para "ser pai de muito Azeredinho". A partir do meio do livro o Coronel começa a enfrentar perigo maior do que as assombrações dos pastos: falsos amigos que exploram sua ingenuidade e bondade. Risadas e fundo folclórico. Não sei dizer se gostei ou não, foi leitura obrigatória.




O Inferno é Aqui Mesmo

O Inferno é Aqui Mesmo
Luiz Vilela. São Paulo. Círculo do Livro. 233 páginas.

Sinopse / Ponderação:
Um a mais descrevendo as ilusões perdidas, em referência ao jornalismo, mas esse, talvez, com leveza. Edgar, repórter que meio casualmente se transfere de Belo Horizonte para São Paulo. Os meses que passa em O Vespertino, concentram o seu denso aprendizado nos desencantos da profissão e do amor. 
O narrador-personagem se divide entre observar a fauna jornalística ao seu redor e remoer os próprios sentimentos de provinciano deslocado na maior cidade brasileira, sofrendo tanto pela inadaptação ao novo meio como por descobrir as pequenezas da profissão. Além disso, sua vida amorosa não é prazerosa. 
Esse é um dos vários livros que já li com o enredo - reprodução - do mundo jornalístico, não é nenhum conto de fadas da Disney.



24 de novembro de 2014

História e Literatura

Novamente, postagens um pouco diferenciadas, novo curso de teor teórico literário, A História de São Paulo através da Literatura, com a mestra Mariana Estevam. Curso ministrado no ILP - Instituto do Legislativo Paulista, na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo


A História de São Paulo através da Literatura


Nesta postagem, bastante diferenciada, apresento o texto Negrinha de Monteiro Lobato (1882-1948), considerado um dos cem melhores contos brasileiros do século. O conto de Lobato tem alguma semelhança com O Caso da Vara de Machado de Assis (1839-1908) e o romance A Hora da Estrela de Clarice Lispector (1920-1977). Todos os textos concebidos em épocas diferentes com observações de mundo diferentes, encontra a conscientização da personagem central em Ser ele Próprio no universo de coisas.
Somente, o texto da Clarice encontra-se resumido, os dois primeiros na íntegra.


NEGRINHA 
                                                                                             Monteiro Lobato

Negrinha era uma pobre órfã de sete anos. Preta? Não; fusca, mulatinha escura, de cabelos ruços e olhos assustados. Nascera na senzala, de mãe escrava, e seus primeiros anos vivera-os pelos cantos escuros da cozinha, sobre velha esteira e trapos imundos. Sempre escondida, que a patroa não gostava de crianças.
Excelente senhora, a patroa. Gorda, rica, dona do mundo, amimada dos padres, com lugar certo na igreja e camarote de luxo reservado no céu. Entaladas as banhas no trono (uma cadeira de balanço na sala de jantar), ali bordava, recebia as amigas e o vigário, dando audiências, discutindo o tempo. Uma virtuosa senhora. Em suma, “dama de grandes virtudes apostólicas, esteio da religião e da moral”, dizia o reverendo. “Ótima, a dona Inácia”..
Mas não admitia choro de criança. Ai! Punha-lhe os nervos em carne viva. Viúva sem filhos, não a calejara o choro da carne de sua carne, e por isso não suportava o choro da carne alheia. Assim, mal vagia, longe, na cozinha, a triste criança, gritava logo nervosa:
- Quem é a peste que está chorando aí?
Quem havia de ser? A pia de lavar pratos? O pilão? O forno? A mãe da criminosa abafava a boquinha da filha e afastava-se com ela para os fundos do quintal, torcendo-lhe em caminho beliscões de desespero.
- Cale a boca, diabo!
No entanto, aquele choro nunca vinha sem razão. Fome quase sempre, ou frio, desses que entanguem pés e mãos e fazem-nos doer… Assim cresceu Negrinha – magra, atrofiada, com os olhos eternamente assustados. Órfã aos quatro anos, por ali ficou feito gato sem dono, levada a pontapés. Não compreendia a idéia dos grandes. Batiam-lhe sempre, por ação ou omissão. A mesma coisa, o mesmo ato, a mesma palavra provocava ora risadas, ora castigos. Aprendeu a andar, mas quase não andava. Com pretextos de que às soltas reinaria no quintal, estragando as plantas, a boa senhora punha-a na sala, ao pé de si, num desvão da porta.
- Sentadinha aí, e bico, hein?
Negrinha imobilizava-se no canto, horas e horas.
- Braços cruzados, já, diabo!
Cruzava os bracinhos a tremer, sempre com o susto nos olhos. E o tempo corria. E o relógio batia uma, duas, três, quatro, cinco horas – um cuco tão engraçadinho! Era seu divertimento vê-lo abrir a janela e cantar as horas com a bocarra vermelha, arrufando as asas. Sorria-se então por dentro, feliz um instante. Puseram-na depois a fazer crochê, e as horas se lhe iam a espichar trancinhas sem fim. Que idéia faria de si essa criança que nunca ouvira uma palavra de carinho? Pestinha, diabo, coruja, barata descascada, bruxa, pata-choca, pinto gorado, mosca-morta, cachorrinha, trapo, sujeira, bisca, coisa-ruim, lixo – não tinha conta o número de apelidos com que a mimoseavam. Tempo houve em que foi a bubônica. A epidemia andava na berra, como a grande novidade, e Negrinha viu-se logo apelidada assim — por sinal que achou linda a palavra. Perceberam-no e suprimiram-na da lista. Estava escrito que não teria um gostinho só na vida — nem esse de personalizar a peste…
O corpo de Negrinha era tatuado de sinais, cicatrizes, vergões. Batiam nele os da casa todos os dias, houvesse ou não houvesse motivo. Sua pobre carne exercia para os cascudos, cocres e beliscões a mesma atração que o ímã exerce para o aço. Mãos em cujos nós de dedos comichasse um cocre, era mão que se descarregaria dos fluidos em sua cabeça. De passagem. Coisa de rir e ver a careta…A excelente dona Inácia era mestra na arte de judiar de crianças. Vinha da escravidão, fora senhora de escravos — e daquelas ferozes, amigas de ouvir cantar o bolo e estalar o bacalhau. Nunca se afizera ao regime novo — essa indecência de negro igual a branco e qualquer coisinha: a polícia! “Qualquer coisinha”: uma mucama assada ao forno porque se engraçou dela o senhor; uma novena de relho porque disse: “Como é ruim, a sinhá!”…
O 13 de Maio tirou-lhe das mãos o azorrague, mas não lhe tirou da alma a gana. Conservava Negrinha em casa como remédio para os frenesis. Inocente derivativo:
- Ai! Como alivia a gente uma boa roda de cocres bem fincados!…
Tinha de contentar-se com isso, judiaria miúda, os níqueis da crueldade. Cocres: mão fechada com raiva e nós de dedos que cantam no coco do paciente. Puxões de orelha: o torcido, de despegar a concha (bom! bom! bom! gostoso de dar) e o a duas mãos, o sacudido. A gama inteira dos beliscões: do miudinho, com a ponta da unha, à torcida do umbigo, equivalente ao puxão de orelha. A esfregadela: roda de tapas, cascudos, pontapés e safanões a uma – divertidíssimo! A vara de marmelo, flexível, cortante: para “doer fino” nada melhor!
Era pouco, mas antes isso do que nada. Lá de quando em quando vinha um castigo maior para desobstruir o fígado e matar as saudades do bom tempo. Foi assim com aquela história do ovo quente. Não sabem! Ora!
Uma criada nova furtara do prato de Negrinha — coisa de rir — um pedacinho de carne que ela vinha guardando para o fim. A criança não sofreou a revolta – atirou-lhe um dos nomes com que a mimoseavam todos os dias.
- “Peste?” Espere aí! Você vai ver quem é peste – e foi contar o caso à patroa.
Dona Inácia estava azeda, necessitadíssima de derivativos. Sua cara iluminou-se.
- Eu curo ela! – disse, e desentalando do trono as banhas foi para a cozinha, qual perua choca, a rufar as saias.
- Traga um ovo.
Veio o ovo. Dona Inácia mesmo pô-lo na água a ferver; e de mãos à cinta, gozando-se na prelibação da tortura, ficou de pé uns minutos, à espera. Seus olhos contentes envolviam a mísera criança que, encolhidinha a um canto, aguardava trêmula alguma coisa de nunca visto. Quando o ovo chegou a ponto, a boa senhora chamou:
- Venha cá!
Negrinha aproximou-se.
- Abra a boca!
Negrinha abriu a boca, como o cuco, e fechou os olhos. A patroa, então, com uma colher, tirou da água “pulando” o ovo e zás! na boca da pequena. E antes que o urro de dor saísse, suas mãos amordaçaram-na até que o ovo arrefecesse. Negrinha urrou surdamente, pelo nariz. Esperneou. Mas só. Nem os vizinhos chegaram a perceber aquilo. Depois:
- Diga nomes feios aos mais velhos outra vez, ouviu, peste?
E a virtuosa dama voltou contente da vida para o trono, a fim de receber o vigário que chegava.
- Ah, monsenhor! Não se pode ser boa nesta vida… Estou criando aquela pobre órfã, filha da Cesária… mas que trabalheira me dá!
- A caridade é a mais bela das virtudes cristas, minha senhora —murmurou o padre.
- Sim, mas cansa…
- Quem dá aos pobres empresta a Deus.
A boa senhora suspirou resignadamente.
- Inda é o que vale…
Certo dezembro vieram passar as férias com dona Inácia duas sobrinhas suas, pequenotas, lindas meninas louras, ricas, nascidas e criadas em ninho de plumas. Do seu canto na sala do trono, Negrinha viu-as irromperem pela casa como dois anjos do céu, alegres, pulando e rindo com a vivacidade de cachorrinhos novos. Negrinha olhou imediatamente para a senhora, certa de vê-la armada para desferir contra os anjos invasores o raio dum castigo tremendo. Mas abriu a boca: a sinhá ria-se também… Quê? Pois não era crime brincar? Estaria tudo mudado… e findo o seu inferno… e aberto o céu? No enlevo da doce ilusão, Negrinha levantou-se e veio para a festa infantil, fascinada pela alegria dos anjos.
Mas a dura lição da desigualdade humana lhe chicoteou a alma. Beliscão no umbigo, e nos ouvidos, o som cruel de todos os dias: “Já para o seu lugar, pestinha! Não se enxerga?” Com lágrimas dolorosas, menos de dor física que de angústia moral – sofrimento novo que se vinha acrescer aos já conhecidos -, a triste criança encorujou-se no cantinho de sempre.
- Quem é, titia? – perguntou uma das meninas, curiosa.
- Quem há de ser? – disse a tia, num suspiro de vítima. – Uma caridade minha. Não me corrijo, vivo criando essas pobres de Deus… Uma órfã. Mas brinquem, filhinhas, a casa é grande, brinquem por aí afora.
Brinquem! Brincar! Como seria bom brincar, refletiu com suas lágrimas, no canto, a dolorosa martirzinha, que até ali só brincara em imaginação com o cuco. Chegaram as malas e logo:
- Meus brinquedos! – reclamaram as duas meninas.
Uma criada abriu-as e tirou os brinquedos. Que maravilha! Um cavalo de pau!… Negrinha arregalava os olhos. Nunca imaginara coisa assim tão galante. Um cavalinho! E mais… Que é aquilo? Uma criancinha de cabelos amarelos.que falava “mamã”., que dormia…Era de êxtase o olhar de Negrinha. Nunca vira uma boneca e nem sequer sabia o nome desse brinquedo. Mas compreendeu que era uma criança artificial.
- É feita? – perguntou, extasiada.
E dominada pelo enlevo, num momento em que a senhora saiu da sala a providenciar sobre a arrumação das meninas, Negrinha esqueceu o beliscão, o ovo quente, tudo, e aproximou-se da criatura de louça. Olhou-a com assombrado encanto, sem jeito, sem ânimo de pegá-la. As meninas admiraram-se daquilo.
- Nunca viu boneca?
- Boneca? – repetiu Negrinha. – Chama-se Boneca?
Riram-se as fidalgas de tanta ingenuidade.
- Como é boba! – disseram. – E você como se chama?
- Negrinha.
As meninas novamente torceram-se de riso; mas vendo que o êxtase da bobinha perdurava, disseram,
apresentando-lhe a boneca:
- Pegue!
Negrinha olhou para os lados, ressabiada, como coração aos pinotes. Que ventura, santo Deus! Seria possível?
Depois pegou a boneca. E muito sem jeito, como quem pega o Senhor menino, sorria para ela e para as meninas, com assustados relanços de olhos para a porta. Fora de si, literalmente, era como se penetrara no céu e os anjos a rodeassem, e um filhinho de anjo lhe tivesse vindo adormecer ao colo. Tamanho foi o seu enlevo que não viu chegar a patroa, já de volta. Dona Inácia entreparou, feroz, e esteve uns instantes assim, apreciando a cena. Mas era tal a alegria das hóspedes ante a surpresa extática de Negrinha, e tão grande a força irradiante da felicidade desta, que o seu duro coração afinal bambeou. E pela primeira vez na vida foi mulher. Apiedou-se.
Ao percebê-la na sala Negrinha havia tremido, passando-lhe num relance pela cabeça a imagem do ovo quente e hipóteses de castigos ainda piores. E incoercíveis lágrimas de pavor assomaram-lhe aos olhos. Falhou tudo isso, porém. O que sobreveio foi a coisa mais inesperada do mundo – estas palavras, as primeiras que ela ouviu, doces, na vida:
- Vão todas brincar no jardim, e vá você também, mas veja lá, hein?
Negrinha ergueu os olhos para a patroa, olhos ainda de susto e terror. Mas não viu mais a fera antiga.
Compreendeu vagamente e sorriu. Se alguma vez a gratidão sorriu na vida, foi naquela surrada carinha…
Varia a pele, a condição, mas a alma da criança é a mesma. na princesinha e na mendiga. E para ambos é a boneca o supremo enlevo. Dá a natureza dois momentos divinos à vida da mulher: o momento da boneca – preparatório -, e o momento dos filhos – definitivo. Depois disso, está extinta a mulher.
Negrinha, coisa humana, percebeu nesse dia da boneca que tinha uma alma. Divina eclosão! Surpresa
maravilhosa do mundo que trazia em si e que desabrochava, afinal, como fulgurante flor de luz. Sentiu-se elevada à altura de ente humano. Cessara de ser coisa — e doravante ser-lhe-ia impossível viver a vida de coisa. Se não era coisa! Se sentia! Se vibrava! Assim foi, e essa consciência a matou.
Terminadas as férias, partiram as meninas levando consigo a boneca, e a casa voltou ao ramerrão habitual. Só não voltou a si Negrinha. Sentia-se outra, inteiramente transformada. Dona Inácia, pensativa, já a não atazanava tanto, e na cozinha uma criada nova e boa de coração, amenizava-lhe a vida. Negrinha, não obstante, caíra numa tristeza infinita. Mal comia e perdera a expressão de susto que tinha nos olhos. Trazia-os agora nostálgicos, cismarentos. Aquele dezembro de férias, luminosa rajada de céu trevas adentro do seu doloroso inferno, envenenara-a. Brincara ao sol, no jardim. Brincara!… Acalentara, dias seguidos, a linda boneca loura, tão boa, tão quieta, a dizer mamã, a cerrar os olhos para dormir. Vivera realizando sonhos da imaginação. Desabrochara-se de alma.
Morreu na esteirinha rota, abandonada de todos, como um gato sem dono. Jamais, entretanto, ninguém morreu com maior beleza. O delírio rodeou-a de bonecas, todas louras, de olhos azuis. E de anjos… E bonecas e anjos remoinhavam-lhe em torno, numa farândola do céu. Sentia-se agarrada por aquelas mãozinhas de louça — abraçada, rodopiada.
Veio a tontura; uma névoa envolveu tudo. E tudo regirou em seguida, confusamente, num disco. Ressoaram vozes apagadas, longe, e pela última vez o cuco lhe apareceu de boca aberta. Mas, imóvel, sem rufar as asas.
Foi-se apagando. O vermelho da goela desmaiou… E tudo se esvaiu em trevas. Depois, vala comum. A terra papou com indiferença aquela carnezinha de terceira — uma miséria, trinta quilos mal pesados…
E de Negrinha ficaram no mundo apenas duas impressões. Uma cômica, na memória das meninas ricas.
- Lembras-te daquela bobinha da titia, que nunca vira boneca?
Outra de saudade, no nó dos dedos de dona Inácia.
- Como era boa para um cocre!…
                                  {O texto acima foi publicado originalmente em livro do mesmo nome, tendo sido selecionado por Ítalo Moriconi e consta de “Os cem melhores contos brasileiros do século”, editora Objetiva — Rio de Janeiro, 2000, pág. 78.



O CASO DA VARA
                                                                                                 Machado de Assis

Damião fugiu do seminário às onze horas da manhã de uma sexta-feira de agosto. Não sei bem o ano, foi antes de 1850. Passados alguns minutos parou vexado; não contava com o efeito que produzia nos olhos da outra gente aquele seminarista que ia espantado, medroso, fugitivo. Desconhecia as ruas, andava e desandava, finalmente parou. Para onde iria? Para casa, não, lá estava o pai que o devolveria ao seminário, depois de um bom castigo. Não assentara no ponto de refúgio, porque a saída estava determinada para mais tarde; uma circunstância fortuita a apressou. Para onde iria? Lembrou-se do padrinho, João Carneiro, mas o padrinho era um moleirão sem vontade, que por si só não faria coisa útil. Foi ele que o levou ao seminário e o apresentou ao reitor:
Trago-lhe o grande homem que há de ser, disse ele ao reitor.
- Venha, acudiu este, venha o grande homem, contanto que seja também humilde e bom. A verdadeira grandeza é chã. Moço...
Tal foi a entrada. Pouco tempo depois fugiu o rapaz ao seminário. Aqui o vemos agora na rua, espantado, incerto, sem atinar com refúgio nem conselho; percorreu de memória as casas de parentes e amigos, sem se fixar em nenhuma. De repente, exclamou:
- Vou pegar-me com Sinhá Rita! Ela manda chamar meu padrinho, diz-lhe que quer que eu saia do seminário... Talvez assim...
Sinhá Rita era uma viúva, querida de João Carneiro; Damião tinha umas idéias vagas dessa situação e tratou de a aproveitar. Onde morava? Estava tão atordoado, que só daí a alguns minutos é que lhe acudiu a casa; era no Largo do Capim.
- Santo nome de Jesus! Que é isto? bradou Sinhá Rita, sentando-se na marquesa, onde estava reclinada.
Damião acabava de entrar espavorido; no momento de chegar à casa, vira passar um padre, e deu um empurrão à porta, que por fortuna não estava fechada a chave nem ferrolho. Depois de entrar espiou pela rótula, a ver o padre. Este não deu por ele e ia andando.
- Mas que é isto, Sr. Damião? bradou novamente a dona da casa, que só agora o conhecera. Que vem fazer aqui!
Damião, trêmulo, mal podendo falar, disse que não tivesse medo, não era nada; ia explicar tudo.
- Descanse; e explique-se.
- Já lhe digo; não pratiquei nenhum crime, isso juro, mas espere.
Sinhá Rita olhava para ele espantada, e todas as crias, de casa, e de fora, que estavam sentadas em volta da sala, diante das suas almofadas de renda, todas fizeram parar os bilros e as mãos. Sinhá Rita vivia principalmente de ensinar a fazer renda, crivo e bordado. Enquanto o rapaz tomava fôlego, ordenou às pequenas que trabalhassem, e esperou. Afinal, Damião contou tudo, o desgosto que lhe dava o seminário; estava certo de que não podia ser bom padre; falou com paixão, pediu-lhe que o salvasse.
- Como assim? Não posso nada.
- Pode, querendo.
- Não, replicou ela abanando a cabeça, não me meto em negócios de sua família, que mal conheço; e então seu pai, que dizem que é zangado!
Damião viu-se perdido. Ajoelhou-se-lhe aos pés, beijou-lhe as mãos, desesperado.
- Pode muito, Sinhá Rita; peço-lhe pelo amor de Deus, pelo que a senhora tiver de mais sagrado, por alma de seu marido, salve-me da morte, porque eu mato-me, se voltar para aquela casa.
Sinhá Rita, lisonjeada com as súplicas do moço, tentou chamá-lo a outros sentimentos. A vida de padre era santa e bonita, disse-lhe ela; o tempo lhe mostraria que era melhor vencer as repugnâncias e um dia...
- Não nada, nunca! redargüia Damião, abanando a cabeça e beijando-lhe as mãos, e repetia que era a sua morte.
Sinhá Rita hesitou ainda muito tempo; afinal perguntou-lhe por que não ia ter com o padrinho.
- Meu padrinho? Esse é ainda pior que papai; não me atende, duvido que atenda a ninguém...
- Não atende? interrompeu Sinhá Rita ferida em seus brios. Ora, eu lhe mostro se atende ou não...
Chamou um moleque e bradou-lhe que fosse à casa do Sr. João Carneiro chamá-lo, já e já; e se não estivesse em casa, perguntasse onde podia ser encontrado, e corresse a dizer-lhe que precisava muito de lhe falar imediatamente.
- Anda, moleque.
Damião suspirou alto e triste. Ela, para mascarar a autoridade com que dera aquelas ordens, explicou ao moço que o Sr. João Carneiro fora amigo do marido e arranjara-lhe algumas crias para ensinar. Depois, como ele continuasse triste, encostado a um portal, puxou-lhe o nariz, rindo:
- Ande lá, seu padreco, descanse que tudo se há de arranjar.
Sinhá Rita tinha quarenta anos na certidão de batismo, e vinte e sete nos olhos. Era apessoada, viva, patusca, amiga de rir; mas, quando convinha, brava como diabo. Quis alegrar o rapaz, e, apesar da situação, não lhe custou muito. Dentro de pouco, ambos eles riam, ela contava-lhe anedotas, e pedia-lhe outras, que ele referia com singular graça. Uma destas, estúrdia, obrigada a trejeitos, fez rir a uma das crias de Sinhá Rita, que esquecera o trabalho, para mirar e escutar o moço. Sinhá Rita pegou de uma vara que estava ao pé da marquesa, e ameaçou-a:
- Lucrécia, olha a vara!
A pequena abaixou a cabeça, aparando o golpe, mas o golpe não veio. Era uma advertência; se à noitinha a tarefa não estivesse pronta, Lucrécia receberia o castigo do costume. Damião olhou para a pequena; era uma negrinha, magricela, um frangalho de nada, com uma cicatriz na testa e uma queimadura na mão esquerda. Contava onze anos. Damião reparou que tossia, mas para dentro, surdamente, a fim de não interromper a conversação. Teve pena da negrinha, e resolveu apadrinhá-la, se não acabasse a tarefa. Sinhá Rita não lhe negaria o perdão... Demais, ela rira por achar-lhe graça; a culpa era sua, se há culpa em ter chiste.
Nisto, chegou João Carneiro. Empalideceu quando viu ali o afilhado, e olhou para Sinhá Rita, que não gastou tempo com preâmbulos. Disse-lhe que era preciso tirar o moço do seminário, que ele não tinha vocação para a vida eclesiástica, e antes um padre de menos que um padre ruim. Cá fora também se podia amar e servir a Nosso Senhor. João Carneiro, assombrado, não achou que replicar durante os primeiros minutos; afinal, abriu a boca e repreendeu o afilhado por ter vindo incomodar "pessoas estranhas", e em seguida afirmou que o castigaria.
- Qual castigar, qual nada! interrompeu Sinhá Rita. Castigar por quê? Vá, vá falar a seu compadre.
- Não afianço nada, não creio que seja possível...
- Há de ser possível, afianço eu. Se o senhor quiser, continuou ela com certo tom insinuativo, tudo se há de arranjar. Peça-lhe muito, que ele cede. Ande, Senhor João Carneiro, seu afilhado não volta para o seminário; digo-lhe que não volta...
- Mas, minha senhora...
- Vá, vá.
João Carneiro não se animava a sair, nem podia ficar. Estava entre um puxar de forças opostas. Não lhe importava, em suma que o rapaz acabasse clérigo, advogado ou médico, ou outra qualquer coisa, vadio que fosse, mas o pior é que lhe cometiam uma luta ingente com os sentimentos mais íntimos do compadre, sem certeza do resultado; e, se este fosse negativo, outra luta com Sinhá Rita, cuja última palavra era ameaçadora: "digo-lhe que ele não volta". Tinha de haver por força um escândalo. João Carneiro estava com a pupila desvairada, a pálpebra trêmula, o peito ofegante. Os olhares que deitava a Sinhá Rita eram de súplica, mesclados de um tênue raio de censura. Por que lhe não pedia outra coisa? Por que lhe não ordenava que fosse a pé, debaixo de chuva, à Tijuca, ou Jacarepaguá? Mas logo persuadir ao compadre que mudasse a carreira do filho... Conhecia o velho; era capaz de lhe quebrar uma jarra na cara. Ah! se o rapaz caísse ali, de repente, apoplético, morto! Era uma solução - cruel, é certo, mas definitiva.
- Então? insistiu Sinhá Rita.
Ele fez-lhe um gesto de mão que esperasse. Coçava a barba, procurando um recurso. Deus do céu! um decreto do papa dissolvendo a Igreja, ou, pelo menos, extinguindo os seminários, faria acabar tudo em bem. João Carneiro voltaria para casa e ia jogar os três-setes. Imaginai que o barbeiro de Napoleão era encarregado de comandar a batalha de Austerlitz... Mas a Igreja continuava, os seminários continuavam, o afilhado continuava cosido à parede, olhos baixos esperando, sem solução apoplética.
- Vá, vá, disse Sinhá Rita dando-lhe o chapéu e a bengala.
Não teve remédio. O barbeiro meteu a navalha no estojo, travou da espada e saiu à campanha. Damião respirou; exteriormente deixou-se estar na mesma, olhos fincados no chão, acabrunhado. Sinhá Rita puxou-lhe desta vez o queixo.
- Ande jantar, deixe-se de melancolias.
- A senhora crê que ele alcance alguma coisa?
- Há de alcançar tudo, redargüiu Sinhá Rita cheia de si. Ande, que a sopa está esfriando.
Apesar do gênio galhofeiro de Sinhá Rita, e do seu próprio espírito leve, Damião esteve menos alegre ao jantar que na primeira parte do dia. Não fiava do caráter mole do padrinho. Contudo, jantou bem; e, para o fim, voltou às pilhérias da manhã. A sobremesa, ouviu um rumor de gente na sala, e perguntou se o vinham prender.
- Hão de ser as moças.
Levantaram-se e passaram à sala. As moças eram cinco vizinhas que iam todas as tardes tomar café com Sinhá Rita, e ali ficavam até o cair da noite.
As discípulas, findo o jantar delas, tornaram às almofadas do trabalho. Sinhá Rita presidia a todo esse mulherio de casa e de fora. O sussurro dos bilros e o palavrear das moças eram ecos tão mundanos, tão alheios à teologia e ao latim, que o rapaz deixou-se ir por eles e esqueceu o resto. Durante os primeiros minutos, ainda houve da parte das vizinhas certo acanhamento, mas passou depressa. Uma delas cantou uma modinha, ao som da guitarra, tangida por Sinhá Rita, e a tarde foi passando depressa. Antes do fim, Sinhá Rita pediu a Damião que contasse certa anedota que lhe agradara muito. Era a tal que fizera rir Lucrécia.
- Ande, senhor Damião, não se faça de rogado, que as moças querem ir embora. Vocês vão gostar muito.
Damião não teve remédio senão obedecer. Malgrado o anúncio e a expectação, que serviam a diminuir o chiste e o efeito, a anedota acabou entre risadas das moças. Damião, contente de si, não esqueceu Lucrécia e olhou para ela, a ver se rira também. Viu-a com a cabeça metida na almofada para acabar a tarefa. Não ria; ou teria rido para dentro, como tossia.
Saíram as vizinhas, e a tarde caiu de todo. A alma de Damião foi-se fazendo tenebrosa, antes da noite. Que estaria acontecendo? De instante a instante, ia espiar pela rótula, e voltava cada vez mais desanimado. Nem sombra do padrinho. Com certeza, o pai fê-lo calar, mandou chamar dois negros, foi à polícia pedir um pedestre, e aí vinha pegá-lo à força e levá-lo ao seminário. Damião perguntou a Sinhá Rita se a casa não teria saída pelos fundos, correu ao quintal e calculou que podia saltar o muro. Quis ainda saber se haveria modo de fugir para a Rua da Vala, ou se era melhor falar a algum vizinho que fizesse o favor de o receber. O pior era a batina; se Sinhá Rita lhe pudesse arranjar um rodaque, uma sobrecasaca velha... Sinhá Rita dispunha justamente de um rodaque, lembrança ou esquecimento de João Carneiro.
- Tenho um rodaque do meu defunto, disse ela, rindo; mas para que está com esses sustos? Tudo se há de arranjar, descanse.
Afinal, à boca da noite, apareceu um escravo do padrinho, com uma carta para Sinhá Rita. O negócio ainda não estava composto; o pai ficou furioso e quis quebrar tudo; bradou que não, senhor que o peralta havia de ir para o seminário, ou então metia-o no Aljube ou na presiganga. João Carneiro lutou muito para conseguir que o compadre não resolvesse logo, que dormisse a noite, e meditasse bem se era conveniente dar à religião um sujeito tão rebelde e vicioso. Explicava na carta que falou assim para melhor ganhar a causa. Não a tinha por ganha, mas no dia seguinte lá iria ver o homem, e teimar de novo. Concluía dizendo que o moço fosse para a casa dele.
Damião acabou de ler a carta e olhou para Sinhá Rita. Não tenho outra tábua de salvação, pensou ele. Sinhá Rita mandou vir um tinteiro de chifre, e na meia folha da própria carta escreveu esta resposta: "Joãozinho, ou você salva o moço, ou nunca mais nos vemos". Fechou a carta com obreia, e deu-a ao escravo, para que a levasse depressa. Voltou a reanimar o seminarista, que estava outra vez no capuz da humildade e da consternação. Disse-lhe que sossegasse, que aquele negócio era agora dela.
- Hão de ver para quanto presto! Não, que eu não sou de brincadeiras!
Era a hora de recolher os trabalhos. Sinhá Rita examinou-os, todas as discípulas tinham concluído a tarefa. Só Lucrécia estava ainda à almofada, meneando os bilros, já sem ver; Sinhá Rita chegou-se a ela, viu que a tarefa não estava acabada, ficou furiosa, e agarrou-a por uma orelha.
- Ah! malandra!
- Nhanhã, nhanhã! pelo amor de Deus! por Nossa Senhora que está no céu.
- Malandra! Nossa Senhora não protege vadias!
Lucrécia fez um esforço, soltou-se das mãos da senhora, e fugiu para dentro; a senhora foi atrás e agarrou-a.
- Anda cá!
- Minha senhora, me perdoe!
- Não perdôo, não.
E tornaram ambas à sala, uma presa pela orelha, debatendo-se, chorando e pedindo; a outra dizendo que não, que a havia de castigar.
- Onde está a vara?
A vara estava à cabeceira da marquesa, do outro lado da sala Sinhá Rita, não querendo soltar a pequena, bradou ao seminarista.
- Sr. Damião, dê-me aquela vara, faz favor?
Damião ficou frio... Cruel instante! Uma nuvem passou-lhe pelos olhos. Sim, tinha jurado apadrinhar a pequena, que por causa dele, atrasara o trabalho...
- Dê-me a vara, Sr. Damião!
Damião chegou a caminhar na direção da marquesa. A negrinha pediu-lhe então por tudo o que houvesse mais sagrado, pela mãe, pelo pai, por Nosso Senhor...
- Me acuda, meu sinhô moço!
Sinhá Rita, com a cara em fogo e os olhos esbugalhados, instava pela vara, sem largar a negrinha, agora presa de um acesso de tosse. Damião sentiu-se compungido; mas ele precisava tanto sair do seminário! Chegou à marquesa, pegou na vara e entregou-a a Sinhá Rita.

                      {Fonte: Páginas Recolhidas - Machado de Assis - W.M. Jackson Inc. Editores - 1946.}



A Hora da Estrela
                                                                                                 Clarice Lispector

Resumo da Obra.

Rodrigo inicia a história traçando um perfil da protagonista que irá criar. Ela será de origem nordestina, embora o autor ainda desconheça seu nome. Esta jovem é tão inocente que em muitos momentos sorri para as pessoas nas vias públicas. Ele faz questão de enfatizar que ninguém retribui seu sorriso porque ela é praticamente invisível aos outros.
Sua profissão é definida com maior clareza. Ela domina a datilografia. A trama será bem singela. Se conquistar um marido, deverá se casar toda de branco. Há muitas questões ainda sem definição na mente do autor. Ele já sabe, porém, que a moça será muito recatada e não terá muito talento para viver.
A jovem vai ter um emprego de datilógrafa em uma empresa de representação de roldanas, localizada na Rua do Lavradio. Seu patrão briga com ela porque a moça comete muitos erros nos textos que datilografa. Ele a intimida com ferocidade, insistindo em dizer que irá mandá-la embora. Com doçura a protagonista pede desculpas por lhe causar problemas; nessa hora Raimundo Silveira recua e com mais educação diz que por algum tempo não a demitirá.
No passado a jovem viveu ao lado de uma tia devota. Ela veio ao mundo bem raquítica; aos dois anos ficou órfã de pai e mãe no sertão alagoano. Então foi com sua única parente para Maceió. A personagem demorou a se desenvolver fisicamente e no início não parecia ter qualquer traço de feminilidade.

O único prazer dela era comer goiabada com queijo, mas sua tia fazia questão de lhe proibir de saborear essa delícia só para puni-la. Após a morte da sua parente, quando as duas já moravam no Rio de Janeiro, a garota não voltou a freqüentar a Igreja. O autor não define o porquê da mudança da protagonista e de sua tia para terras cariocas. Antes de falecer ela conseguiu um trabalho para a sobrinha.
Nesta cidade a personagem vivia com mais quatro jovens, vendedoras das Lojas Americanas: Maria da Penha, Maria Aparecida, Maria José e Maria apenas. Elas dividiam um cômodo na Rua do Acre, próxima ao cais, região de prostituição e de desembarque dos marinheiros.
Um dia ela desejou se permitir uma experiência única. Nunca pode ficar só no aposento onde vivia com as companheiras. Assim, teceu uma história para seu chefe só pensando em ficar sem ninguém no quarto. Nesse dia ela conheceu a solidão, um tesouro até então desconhecido. Aumentou até o último volume o radinho de pilha, dançou e comeu até não poder mais na frente do espelho.
Sob uma chuva intensa, a protagonista conheceu sua suposta alma gêmea. Os dois se viram e se perceberam como seres da mesma espécie, frutos do Nordeste. É nesse ponto da história que o autor enfim revela o nome da jovem: Macabéa, consequência de uma promessa feita por sua mãe. Ambos se encontraram na frente de uma loja de ferragens. Os dois encontros seguintes se desenrolaram também embaixo de um temporal.
Depois ela ficou sabendo que ele se chamava Olímpico de Jesus Moreira Chaves, sendo que os dois últimos elementos do sobrenome, ‘Moreira Chaves’, foram invenção dele. Era somente Olímpico de Jesus. Ele tinha sido educado por um padrasto. Com ele aprendera a se insinuar com educação junto às pessoas para tirar vantagem delas e a fisgar uma mulher. O jovem era operário de uma metalúrgica. Mas, para os padrões de Macabéa, ele se expressava de uma forma complicada. E ainda por cima não a considerava uma mulher bonita.
Numa dada ocasião eles estavam em um passeio quando o rapaz quis provar que era magro, porém vigoroso. Ele a ergueu em um único braço em plena rua. A exibição durou pouco, pois logo não suportou o peso dela e a derrubou na lama. Ela ficou com o nariz sangrando e ainda por cima pediu desculpas ao namorado. Sem alternativa para se limpar, a protagonista levantou a saia, mas não sem antes suplicar a Olímpio que se virasse. O moço se enfureceu e ficou muitos dias longe dela.
O maior desejo de Macabéa era ser uma estrela do cinema. Olímpio achou que esta era uma ideia insensata, pois ela tinha cor de sujeira. Ele não costumava pagar nada para a namorada. Era um homem avarento; quando, uma vez, comprou um café para ela em um bar e a jovem pediu um pingado com leite, o namorado concordou, mas a protagonista deveria cobrir qualquer diferença no valor da bebida.
Em uma ida ao zoológico, onde Macabéa financiou o ingresso dela, ela teve pavor praticamente de todos os animais. Diante do rinoceronte ela se urinou toda, e agradeceu pelo namorado não ter notado. Ela alegou que tinha se sentado em um lugar molhado.
Olímpico sempre se queixava que Macabéa não tinha nada para falar. Mas quando ela reagia, angustiada, e começava a repetir o que ouvia na Rádio Relógio, ele a desprezava e dizia que era tudo mentira ou idiotice da parte dela, mesmo com todos os seus juramentos de que falava a verdade.
O rapaz não tinha prazer algum em se relacionar com a protagonista. Ele achava a moça sem sal, um resultado inferior da Natureza. Porém, ao conhecer Glória, colega de sua namorada, percebeu imediatamente que teria mais vantagens ao lado dela. A moça era loira falsa, nascida no Rio de Janeiro, nada bonita, mas bem nutrida. Ela tinha família e fazia as refeições necessárias; além disso, era filha de açougueiro, o que deixou Olímpico embevecido, e seu corpo indicava que poderia lhe dar filhos saudáveis.
O relacionamento com a protagonista tornou-se entediante. Agora ele quase nunca a encontrava no ponto de ônibus. Enquanto isso, ela só sonhava com o dia do noivado e do casamento. Finalmente ele rompe com a moça, diz que vai trocá-la por Glória e a humilha. A reação de Macabéa é surpreendente; ela dá uma gargalhada e ele, sem compreender a resposta dela, também desata a rir.
Pouco tempo depois a protagonista passa um batom vermelho-vivo nos lábios. A colega Glória acha esquisito e pergunta a ela se ficou louca; não contente, diz que Macabéa está parecendo mulher de soldado. Ela reafirma que é virgem e a companheira questiona se a feiúra causa dor. Macabéa responde que não parou para pensar nisso, mas devolve a pergunta à Glória, afirmando que ela deve saber, pois é feia.
Porém a protagonista não guardava ressentimentos. Embora não trocasse confidências com a colega, continuava a conversar com ela. Uma vez acabou confessando que seu desejo era ser Marylin. A companheira riu muito. Nesse meio tempo Olímpio quis intimidar Glória e ingeriu pimenta-malagueta pura sem nem mesmo tomar um gole de água. A jovem teve receio dele e começou a se submeter a sua vontade.
Provavelmente, em um ímpeto de remorso por ter tirado o namorado de Macabéa, Glória a convidou para conhecer sua casa. A protagonista teve a sensação de que sua colega morava em casa de gente rica e tinha refeições fartas. Ela tomou chocolate quente e comeu biscoitos na casa de Glória.
Macabéa teve um início de tuberculose. O médico fez o diagnóstico e ela o agradeceu, pois não sabia se a doença era algo bom ou não. O doutor prescreveu os medicamentos e também espaguete bem italiano. Ela demonstrou não saber do que ele estava falando, e o profissional perdeu a paciência com ela.
Glória acabou contando para Macabéa que conquistou o namorado dela através de uma cartomante. Essa mulher pretensamente conheceria o futuro de todos. Ela se propõe a emprestar o valor necessário para a protagonista passar por uma consulta com a mulher que lê as cartas. A moça indica madama Carlota para Macabéa. Ela tem o dom de romper qualquer magia que alguém tenha armado contra seu cliente, trabalha com porco preto, galinhas brancas e muito sangue.
Macabéa seguiu os conselhos da colega e procurou madama Carlota. Ela a recebeu com muito afeto. Uma jovem chorosa deixava a casa da mulher quando a protagonista chegou. A cartomante contou à protagonista toda sua história, desde quando era uma jovem mergulhada na prostituição. Ela fora apaixonada por um gigolô que às vezes lhe batia, mas sentia prazer quando levava essas surras.
Quando seu amado a abandonou, Carlota decidiu só se relacionar com mulheres, para não passar mais por tanto sofrimento. Então ela deu um conselho a Macabéa, só amar seres do sexo feminino, por conta de sua doçura. Assim que a cartomante envelheceu, engordou e ficou sem dentes, ela se transformou em cafetina.
Enfim Carlota dá início à consulta. Ela pede que Macabéa dê um corte nas cartas com a mão esquerda. Para a protagonista esse gesto simbolizava seu próprio futuro. A cartomante ficou perplexa ao fitar as cartas. Ela vê a vida terrível da jovem e expressa sua compaixão. A mulher não erra nenhum detalhe sobre o pretérito da protagonista. Então avisa que ela ficará sem trabalho após ter sido abandonada pelo namorado.
No fim da consulta, o rosto da madama brilha e ela afirma que a existência da jovem irá se modificar completamente na mesma hora em que ela sair daquela casa. Olímpio ia reatar o namoro e lhe pedir em casamento; o patrão não iria mais deixá-la sem trabalho e, ainda por cima, a moça ia receber uma grande soma de dinheiro à noite, pelas mãos de um estrangeiro. O homem teria a pele clara, seria loiro de olhos azuis, esverdeados, castanhos ou negros. E se Macabéa não estivesse tão apaixonada por Olímpio, ele a pediria em namoro. Nesse instante Carlota pensou melhor e disse que o estrangeiro é que iria ser o marido de Macabéa. Ela encontraria a felicidade e teria uma vida luxuosa.
Quando Macabéa ficou perplexa, madama afirmou que só falava a verdade, não ocultava nada a seus clientes. Então contou ter dito à jovem que deixara sua casa em prantos que ela sofreria um atropelamento. Para completar, Carlota prescreveu uma simpatia para que os seios de Macabéa se tornassem maiores. Ela deveria inserir pedaços de algodão no interior do sutiã.
Macabéa teria que pagar por esse truque que ela lhe ensinou; a protagonista pediu uma orientação para ter mais cabelos. Carlota lhe indicou uma espécie de sabão. Depois disso pediu à jovem que partisse para achar depressa o seu futuro. Além do mais, outra cliente a aguardava.
Assim que deixou a casa da cartomante, a protagonista já se sentia diferente. Agora ela tinha um futuro. Carlota lhe dera uma perspectiva de vida. Ela quis chorar, mas reprimiu as lágrimas. Porém, ao pisar na rua, foi atropelada por um Mercedes amarelo. Jogada no chão, a moça ainda conseguiu perceber que se tratava de um automóvel luxuoso. Muitas pessoas se juntaram em torno de Macabéa, já em agonia, mas nenhuma delas tentou socorrê-la. A jovem foi envolta pela morte e a felicidade a atingiu. Ela partiu.




22 de novembro de 2014

História e Literatura

Novamente, postagens um pouco diferenciadas, novo curso de teor teórico literário, A História de São Paulo através da Literatura, com a mestra Mariana Estevam. Curso ministrado no ILP - Instituto do Legislativo Paulista, na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo


A História de São Paulo através da Literatura



A aula passada, 17 de novembro, foi uma revisão das anteriores e com pequena amostra do trabalho realizado por Militão (Militão Augusto de Azevedo - 1837-1905, considerado um dos mais importantes fotógrafos brasileiros, da segunda metade do século XIX.) - com o seu trabalho, foi capaz sem perceber de documentar as transformações das cidades brasileiras, principalmente, a cidade de São Paulo, como no exemplo abaixo.
E preparo para a próxima, já com o Modernismo.


São Paulo, 1862

Família, 1870





O Bug do Milênio

O Bug do Milênio
Godo R. Goemann Jr. São Paulo. Nobel. 1999. 136 páginas.


Sinopse / Ponderação:
Visão panorâmica do problema e sua influência no dia-a-dia. Esse livro é daqueles para leitura pontual. Passou o momento, esquecido no fundo da estante. Entretanto, há alguns dias, o reencontrei, de repente, destaquei uma página e a li, pronto! O que parecia pontual naquele ano de 1999/2000, possui uma certa realidade. O que era dúvida virou certeza. Porém, a frase dita por Pablo Picasso, talvez tenha tomado outro rumo, pois a essência da criatividade recebeu muita ajuda do computador - "Os computadores servem para pouca coisa. Eles só sabem dar respostas. Não sabem perguntar, que é a essência da criatividade". Bem, não dar para imaginar-me vivendo no século XVIII, com a sede de conhecimento do qual possuo.



16 de novembro de 2014

História e Literatura

Novamente, postagens um pouco diferenciadas, novo curso de teor teórico literário, A História de São Paulo através da Literatura, com a mestra Mariana Estevam. Curso ministrado no ILP - Instituto do Legislativo Paulista, na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo



A História de São Paulo através da Literatura


Bom, estou participando deste curso, porque encontro-me em gozo de férias. Além  do mais, é um tema maravilhoso. Referência as aulas de 10 e 14 de novembro sobre o tema: "A restauração da Capitania e Província de São Paulo.


Mariana Estevam

Reprodução de uma foto da Padaria Santa Tereza, 1910.

Foram duas aulas de descobertas, se for assim, que desejo expressar-me. Fatos que conhecemos como certo, de alguma maneira, foi distorcida pela História oficial. Ou foi tão romanceado, prevalecendo o valor idealizado em detrimento do real.  Luiz Antônio de Souza Botelho e Mourão, o Morgado de Mateus, pode-se considerar como Primeiro Governador de São Paulo, entre 1765-1775, período no qual ele restabeleceu a capitania e fundou pelo menos 20 cidades, mas não com a configuração atual.


Informação complementar:
http://www.saopauloantiga.com.br = Largo da Memória e seu chafariz.

Para sentir o clima
1 - Por que mentias? < http://www.youtube.com./watch?v=shfRgd2kLfM >
2 - Lembrança de Morrer - Se eu morresse amanhã < http://www.youtube.com./watch?v =vOKCyBS5jGY >
3 - Se eu morresse amanhã - Paulo Autran  < http://www.youtube.com./watch?v=CDfrY62cCEM >



Cântico do Calvário
                                  Fagundes Varela (1841-1875)

Eras na vida a pomba predileta
Que sobre um mar de angústias conduzia
O ramo da esperança. Eras a estrela
Que entre as névoas do inverno cintilava
Apontando o caminho ao pegureiro.

Eras a messe de um dourado estio.
Eras o idílio de um amor sublime.
Eras a glória, a inspiração, a pátria,
O porvir de teu pai! - Ah! no entanto,
Pomba, - varou-te a flecha do destino!

Astro, - engoliu-te o temporal do norte!
Teto, - caíste!- Crença, já não vives!
Correi, correi, oh! lágrimas saudosas,
Legado acerbo da ventura extinta,
Dúbios archotes que a tremer clareiam
A lousa fria de um sonhar que é morto!

Correi! um dia vos verei mais belas
Que os diamantes de Ofir e de Golconda
Fulgurar na coroa de martírios
Que me circunda a fronte cismadora!
São mortos para mim da noite os fachos,
Mas Deus vos faz brilhar, lágrimas santas,
E à vossa luz caminharei nos ermos!

Estrelas do sofrer, gotas de mágoa,
Brando orvalho do céu! Sede benditas!
Oh! filho de minh'alma! Última rosa
Que neste solo ingrato vicejava!
Minha esperança amargamente doce!

Quando as garças vierem do ocidente
Buscando um novo clima onde pausarem,
Não mais te embalarei sobre os joelhos,
Nem de teus olhos no cerúleo brilho
Acharei um consolo a meus tormentos!

Não mais invocarei a musa errante
Nesses retiros onde cada folha
Era um polido espelho de esmeralda
Que refletia os fugitivos quadros
Dos suspirados tempos que se foram!

Não mais perdido em vaporosas cismas
Escutarei ao pôr-do-sol, nas serras,
Vibrar a trompa sonorosa e leda
Do caçador que aos lares se recolhe!
Não mais! A areia tem corrido, e o livro
De minha infanda história está completo!

Pouco tenho de andar! Um passo ainda
E o fruto de meus dias, negro, podre,
Do galho eivado rolará por terra!
Ainda um treno, e o vendaval sem freio
Ao soprar quebrará a última fibra
Da lira infausta que nas mãos sustenho!

Tornei-me o eco das tristezas todas
Que entre os homens achei! o lago escuro
Onde o clarão dos fogos da tormenta
Miram-se as larvas fúnebres do estrago!
Por toda a parte em que arrastei meu manto
Deixei um traço fundo de agonias!...

Oh! quantas horas não gastei, sentado
Sobre as costas bravias do Oceano,
Esperando que a vida se esvaísse
Como um floco de espuma, ou como o friso
Que deixa n'água o lenha do barqueiro!

Quantos momentos de loucura e febre
Não consumi perdido nos desertos,
Escutando os rumores das florestas,
E procurando nessas vozes torvas
Distinguir o meu cântico de morte?

Quantas noites de angústias e delírios
Não velei, entre as sombras espreitando
A passagem veloz do gênio horrendo
Que o mundo abate ao galopar infrene
Do selvagem corcel!... E tudo embalde!

A vida parecia ardente e doida
Agarrar-se a meu ser!... E tu tão jovem,
Tão puro ainda, ainda n'alvorada,
Ave banhada em mares de esperança,
Rosa em botão, crisálida entre luzes,
Foste o escolhido na tremenda ceifa!

Ah! quando a vez primeira em meus cabelos
Senti bater teu hálito suave:
Quando em meus braços te cerrei, ouvindo
Pulsar-te o coração divino ainda;
Quando fitei teus olhos sossegados,
Abismos de inocência e de candura,
E baixo e a medo murmurei: meu filho!

Meu filho! Frase imensa, inexplicável,
Grata como o chorar de Madalena
Aos pés do Redentor... ah! pelas fibras
Senti rugir o vento incendiado
Desse amor infinito que eterniza
O consórcio dos orbes que se enredam
Dos mistérios do ser na teia augusta
Que prende o céu à terra e a terra aos anjos!

Que se expande em torrentes inefáveis
Do seio imaculado de Maria!
Cegou-me tanta luz! Errei, fui homem!
E de meu erro a punição cruenta
Na mesma glória que elevou-me aos astros,
Chorando aos pés da cruz, hoje padeço!

O som da orquestra, o retumbar dos bronzes,
A voz mentida de rafeiros bardos,
Torpe alegria que circunda os berços
Quando a opulência doura-lhes as bordas,
Não te saudaram ao sorrir primeiro,
Clícia mimosa rebentada à sombra!

Mas, ah! se pompas, esplendor faltaram-te,
Tiveste mais que os príncipes da terra!
Templos, altares de afeição sem termos!
Mundos de sentimento e de magia!
Cantos ditados pelo próprio Deus!

Oh! quantos reis que a humanidade aviltam,
E o gênio esmagam dos soberbos tronos,
Trocariam a púrpura romana
Por um verso, uma nota, um som apenas
Dos fecundos poemas que inspiraste!
Que belos sonhos! Que ilusões benditas!

Do cantor infeliz lançaste à vida,
Arco-íris de amor! luz da aliança,
Calma e fulgente em meio da tormenta!
Do exílio escuro a cítara chorosa
Surgiu de novo e às virações errantes

Lançou dilúvios de harmonia! O gozo
Ao pranto sucedeu. As férreas horas
Em desejos alados se mudaram.
Noites fugiam, madrugadas vinham,
Mas sepultado num prazer profundo
Não te deixava o berço descuidoso,
Nem de teu rosto meu olhar tirava,
Nem de outros sonhos que dos teus vivia!

Como eras lindo! Nas rosadas faces
Tinhas ainda o tépido vestígio
Dos beijos divinais, - nos olhos langues
Brilhava o brando raio que acendera
A bênção do Senhor quando o deixaste!

Sobre teu corpo a chusma dos anjinhos,
Filhos do éter e da luz, voavam,
Riam-se alegres, das caçoilas níveas
Celeste aroma te vertendo ao corpo!

E eu dizia comigo:- teu destino
Será mais belo que o cantar das fadas
Que dançam no arrebol, - mais triunfante
Que o sol nascente derribando ao nada
Muralhas de negrume!... Irás tão alto
Como o pássaro-rei do Novo Mundo!

Ai! doido sonho!... Uma estação passou-se
E tantas glórias, tão risonhos planos
Desfizeram-se em pó! O gênio escuro
Abrasou com seu facho ensangüentado
Meus soberbos castelos. A desgraça
Sentou-se em meu solar, e a soberana
Dos sinistros impérios de além-mundo
Com seu dedo real selou-te a fronte!

Inda te vejo pelas noites minhas,
Em meus dias sem luz vejo-te ainda,
Creio-te vivo, e morto te pranteio!...
Ouço o tanger monótono dos sinos,
E cada vibração contar parece
As ilusões que murcham-se contigo!

Cheias de frases pueris, estultas,
O linho mortuário que retalham
Para envolver teu corpo! Vejo esparsas
Saudades e perpétuas, sinto o aroma
Do incenso das igrejas, ouço os cantos
Dos ministros de Deus que me repetem
Que não és mais da terra!... E choro embalde.

Mas não! Tu dormes no infinito seio
Do Criador dos seres! Tu me falas
Na voz dos ventos, no chorar das aves,
Talvez das ondas no respiro flébil!
Tu me contemplas lá do céu, quem sabe?
No vulto solitário de uma estrela.

E são teus raios que meu estro aquecem!
Pois bem! Mostra-me as voltas do caminho!
Brilha e fulgura no azulado manto,
Mas não te arrojes, lágrima da noite,
Nas ondas nebulosas do ocidente!

Brilha e fulgura! Quando a morte fria
Sobre mim sacudir o pó das asas,
Escada de Jacó serão teus raios
Por onde asinha subirá minh'alma.