30 de abril de 2018

Um de nós está mentindo

Um de nós está mentindo
One of us is lying.  Karen M. McManus. Trad. André Gordirro. Rio de Janeiro. Galera. 2018.

Sinopse:
Cinco alunos entram em detenção na escola e apenas quatro saem com vida. Todos são suspeitos e cada um tem algo a esconder. Numa tarde de segunda-feira, cinco estudantes do colégio Bayview entram na sala de detenção: Bronwyn, a gênia, comprometida a estudar em Yale, nunca quebra as regras. Addy, a bela, a perfeita definição da princesa do baile de primavera. Nate, o criminoso, já em liberdade condicional por tráfico de drogas. Cooper, o atleta, astro do time de beisebol. E Simon, o pária, criador do mais famoso app de fofocas da escola. Só que Simon não consegue ir embora. Antes do fim da detenção, ele está morto. E, de acordo com os investigadores, a sua morte não foi acidental. Na segunda, ele morreu. Mas na terça, planejava postar fofocas bem quentes sobre os companheiros de detenção. O que faz os quatro serem suspeitos do seu assassinato. Ou são eles as vítimas perfeitas de um assassino que continua à solta? Todo mundo tem segredos, certo? O que realmente importa é até onde você iria para proteger os seus.

Ponderação:
"... uma redação de 500 palavras sobre como 'a tecnologia está arruinando os colégios nos Estados Unidos"... [ nota - deve ser escrita em papel pautado - manuscrito].
Bom, leva-se em consideração um núcleo pequeno para averiguar o que a tecnologia está produzindo, se de um lado ela facilita nossa vida; do outro ela está destruindo relações humanas milenares, como aquele sentido de olhar no olho do outro enquanto conversamos, aliás, as conversas estão desaparecendo no nível corpo-a-corpo.
Uma história em quase 400 páginas, divida em três partes, narrados por quatro personagens suspeitas de um crime, onde "Falando Nisso" está para Wikileads e Simon para Julian Assange, no microcosmo escolar. Há necessidade de um bom preparo de texto, pois há muitas palavras que não deveriam ser impressas e divulgadas como se fossem da norma culta e na forma literária, mesmo sendo uma realidade juvenil. O final tem uma leve semelhança com O Caso dos Dez Negrinhos (Não Sobrou Nenhum) de Agatha Christie (aqui no blog, em 29/09/2014).


Amor Verdadeiro na Livraria dos Corações Solitários

Amor Verdadeiro na Livraria dos Corações Solitários 
True Love at the Lonely Hearts Boookshop. Annie Darling. Trad. Cecília Camargo Bartalotti. Campinas. Verus. 2018. 335 páginas.

Sinopse:
Este é mais um romance delicioso da série A Livraria dos Corações Solitários, sobre a vida dos funcionários da livraria, um “alegre bando de desajustados”, que por uma razão ou outra desistiram do amor e, ainda assim, o encontram quando menos esperam. É uma verdade universalmente conhecida que uma mulher solteira, em posse de um bom emprego, quatro irmãs mandonas e um gato carente, deve estar em busca do seu verdadeiro amor. Será? Verity Love — fã de carteirinha de Jane Austen e uma introvertida em um mundo de extrovertidos — está perfeitamente feliz sozinha, muito obrigada. E seu namorado fictício, Peter Hardy, é muito útil para ajudá-la a escapar de eventos sociais indesejados. Mas, quando um mal-entendido a obriga a apresentar um total estranho como namorado para suas amigas, a vida de Verity de repente se torna muito mais complicada. Uma namorada fictícia também pode ser bem útil para Johnny. Indo contra todos os instintos de Verity, ela se deixa convencer a fazer uma parceria com ele para um único verão recheado de casamentos, aniversários e festas no jardim, com apenas uma promessa: não se apaixonarem um pelo outro. Mas isso não tem nem chance de acontecer, pois Verity jurou nunca mais ter um namorado, e o coração de Johnny já tem dona...


Ponderação:
Não esperava ler tão rápido a sequência do "A Pequena Livraria dos Corações Solitários", aqui no blog em 28-01-2018. Posy Morland vive um casamento feliz. Sua livraria vendendo bem. Sebastian continua sendo grosseiro e, às vezes, insensível ao sentimento alheio. As demais personagens aparecem em conta gotas, dando enfase na vida amorosa de Varity Love. Bem, vida amorosa não é bem o termo correto, pois temos uns círculos de situações amorosas regadas ao ciúmes e citações de 'Orgulho e Preconceito'. Com senso de humor leve e moderno; comparativo com o cenário do livro e contemporâneo e seus dilemas reais enfrentados pelos adultos de hoje. Vários encontros e desencontros. Novas esperanças. Marissa é uma egoísta a toda prova. Com essa leitura, entendi bem o termo "Saber de livros sem ler",



27 de abril de 2018

A Maleta da Srª Sinclair

A Maleta da Srª Sinclair
Mrs Sinclair's suitcase. Louise Walters. Trad. Fátima Pinho. São Paulo. Planeta/Essência. 2015. 252 páginas.

Sinopse:
Roberta, uma solitária leitora voraz de 34 anos, trabalha na livraria The Old and New na Inglaterra. Ao encontrar uma carta dentro da uma velha mala desgastada da avó que nunca conheceu, ela descobre um segredo sombrio, e tudo o que sabia sobre a sua família irá desmoronar. Intercalando com a narrativa de Roberta, está a de sua avó, Dorothy, uma mulher de 40 anos, sem filhos, desesperada para engravidar, mas que vive um casamento infeliz com Albert, que está em um campo de batalha na Segunda Guerra Mundial. Após um encontro casual com um piloto de guerra polonês, Dorothy acredita que finalmente encontrou a felicidade, mas, ao contrário, terá que tomar uma decisão inimaginável, cujas consequências irão alterar para sempre a estrutura de sua família.
As histórias paralelas de Roberta e Dorothy desenrolam-se durante um período de oitenta anos, enquanto as duas buscam seu próprio caminho em meio a segredos, sacrifícios, mentiras e amor. O livro é uma história mágica de dois mundos, um abalado por segredos e o outro pela verdade.

Ponderação:
A vida fora do âmbito oficial da guerra. A vida fora da memória coletiva. Esposa dedicada e o sonho da maternidade. Frustração. É possível uma mulher passar nove meses e não perceber que estar grávida? Isso tem alguma lógica? Fator estranho, mesmo que a mulher seja ignorante nesta questão! A busca da felicidade! É necessário tomar cuidado em não esquecer money em meio às páginas dos livros, para que no futuro, não haja uma Roberta e tente descobrir se há um milionário perdido ou não. O livro é belo e, até, um pouco poético com histórias entrelaçadas de amor, desencontros, encontros, honra, egoísmo, vaidade, amizade, doação. Escolhas e consequências, expectativas e no fim o perdão.



16 de abril de 2018

O Jardim das Borboletas

O Jardim das Borboletas
The butterfly garden. Dot Hutchison. Trad. Débora Isidoro e Carolina Caires Coelho. São Paulo. Planeta. 2017. 303 páginas.

Sinopse:
Quando a beleza das borboletas encontra os horrores de uma mente doentia. Um thriller arrebatador, fenômeno no mundo inteiro. Perto de uma mansão isolada, existia um maravilhoso jardim. Nele, cresciam flores exuberantes, árvores frondosas... e uma coleção de preciosas “borboletas”: jovens mulheres, sequestradas e mantidas em cativeiro por um homem brutal e obsessivo, conhecido apenas como Jardineiro. Cada uma delas passa a ser identificada pelo nome de uma espécie de borboleta, tendo, então, a pele marcada com um complexo desenho correspondente. Quando o jardim é finalmente descoberto, uma das sobreviventes é levada às autoridades, a fim de prestar seu depoimento. A tarefa de juntar as peças desse complexo quebra-cabeça cabe aos agentes do FBI Victor Hanoverian e Brandon Eddinson, nesse que se tornará o mais chocante e perturbador caso de suas vidas. Mas Maya, a enigmática garota responsável por contar essa história, não parece disposta a esclarecer todos os sórdidos detalhes de sua experiência. Em meio a velhos ressentimentos, novos traumas e o terrível relato sobre um homem obcecado pela beleza, os agentes ficam com a sensação de que ela esconde algum grande segredo.

Ponderação:
Leitor 1 - Alguém tem que fazer o serviço sujo. Fria e calculista. A cena na casa da avó é aterrorizante. 

Leitor 2 - Protagonista é seca, direta e desinteressada. Ou arrogante, bastante interessada? Quando Brandon a desafia, dizendo do sequestro da irmã. Depois a narrativa do Jardineiro contando como iniciou 'sua coleção', nós, leitores, vemos uma conexão. 

Leitor 3 - E aí, porque não houve rebelião. Tentativa de fuga. A servidão das garotas é um tanto irritante... 

Leitor 4 - História triste e perturbadora.

Leitor 5 - Suspense intrigante, doentio e eletrizante.

Leitor 6 - Abandono, estrupo e pedofilia. Além da beleza, desespero e medo eram tão comum quanto respirar.

Leitor 7 - Maya é, relativamente, parecida à Florence de "A Menina que não sabia ler" (aqui, no blog, em 17/01/2014). O relato dela sugere, ao leitor, uma reflexão, um questionamento não só nos acontecimentos, a protagonista, como a saúde mental do Jardineiro 'que acreditava estar protegendo-as do mundo exterior'.

Leitor 8 - Maya é uma personagem forte. Possui um sangue frio espetacular. O romance mostra-nos até onde a maldade humana pode ir, visando os próprios interesses. Quais são os limites que separam o amor da loucura. Que liberdade é um conceito muito, muito, muito vago depois de se ter seu corpo e sua alma quebrados.

Leitor 9 - História impactante. Uma leitura incômoda. Afinal, não é um livro feliz.

Leitor 10 - Se o Jardim possui 30 anos, como sugere o texto; quantos garotas "Ele" sequestrou e matou? Já que houve inconstância no tempo de cinco de cada uma? A motivação? O final é um tanto estranho e não esclarece muita coisa.

Mediador - Confesso que já, e agora mais, não gostava de tatuagem, depois dessa história ficarei em dúvida de a pessoa é, realmente, livre ou estará de alguma maneira presa em uma teia de aranha na vida! E vamos para um café...



15 de abril de 2018

Zorbás

Vida e Proezas de Aléxis Zorbás
Bio kai politeía toú Aléxi Zorbá. de Nikos Kazantzákis (1883-1957). Trad. Mariza Ribeiro Donatiello e Silvia Ricardino. SP. Grua. 2011. 381 páginas.

Sinopse:
A história é narrada por um intelectual grego que, depois de ser chamado de "roedor de papéis" pelo grande amigo Stavridákis , decide lançar-se em uma empreitada arrojada: explorar uma mina de linhito em Creta. Num bar do porto, pouco antes de embarcar, conhece Aléxis Zorbás, a quem contrata para chefiar os trabalhos. Ao chegar à ilha, instalam-se temporariamente na casa de Madame Hortense, uma velha atriz do amor francesa que vive de seu passado e que logo cede aos encantos do empregado-chefe. De dia, enquanto Zorbás comanda os operários na mina, o narrador se enfurna em sua jornada interna banhada pelo mar Líbio e materializada no manuscrito que escreve. À noite, enquanto come a sopa preparada por Zorbás, ele fica a escutar suas histórias, ouvindo-o tocar seu santir, vendo-o dançar as coisas que não consegue expressar com palavras. Suas mulheres, as guerras que viveu, suas certezas, suas dúvidas, suas loucuras. 
O conflito entre alma e corpo, ou espírito e carne, ou divindade e homem, é um dos pilares da obra de Nikos Kazantzákis. A ele, o narrador é lançado com força através de confrontos de visão de mundo que irão remodelar seu modo de pensar. O resultado é uma nova dimensão de compreensão da alma humana, algo infestado de vida, algo que os livros não puderam lhe dar. 
"Vida e Proezas de Aléxis Zorbás" consegue ser ao mesmo tempo um romance de aventura, que se lê com febre, e um romance de formação, que transforma. Como em todo grande livro, sua leitura não é apenas uma experiência literária de excelência, é uma experiência de vida.

Ponderação:
Zorbás é uma narrativa que mostra através de um realismo literário a identificação da realidade com temas da consciência da arte; o trivial e mesquinha da existência humana, na rotina rude, até inculta de um povo. A dramaticidade em algumas cenas, provém da influência mitológica dos gregos.
Zorbás é rude, mas é a  alma sábia no peito do intelectual roedor de papeis. Enquanto vai espalhando suas palavras, quando ao ponto de ebulição, começa uma dança levada a sério a ponto de sentir-se leve igual a um pássaro.
Aparentemente, não há uma tradição de ler uma mesma obra, mas com tradução diferente. Muita das vezes isso é fato comprovado, a tradução define ser agradável ou não a leitura de um romance. Embora, Zorbás, esteve mais harmonioso na edição de 2011, o processo tradutório foi mais poético do que a edição de 1974¹.
A comparação feita por Zorbás, de si próprio com Zeus, o deus namorador, é hilária. A celebração à liberdade e amizade.

Capítulo 4
[ ... ]   - O que é afinal essa água vermelha, patrão?  Pode me dizer? Um cepo ordinário da brotos, nele ficam pendurados uns badulaques ácidos, o tempo passa, o sol os faz amadurecer, tornam-se doces como mel, e então os chamamos de uvas; pisamos essas uvas, tiramos se suco, colocamos em barris, ele fermenta sozinho, abrimos em outubro, na época de São Jorge Bebedor², e sai vinho! Que prodígio é esse, afinal? Bebemos o suco vermelho, e a alma cresce, não cabe mais em sua carcaça ordinária, desfia Deus para a luta. O que é isso tudo, patrão? Pode me dizer?
[ ... ] 


Capitulo 4¹
[ ... ]  - O que é essa água vermelha, patrão? me diga! Uma velha videira deita ramos, tem uns penduricalhos ácidos que pendem, passa o tempo e o sol os amadurece; eles ficam doces como o mel e então passam a chamar uvas; são apanhados, esmagados, o suco é colocado em tóneis, ele fermenta sozinho, são abertos no dia de São Jorge-Beberrão, e virou vinho! E o que é ainda esse prodígio: você bebe esse suco vermelho e eis que sua alma cresce, não cabe mais na velha carcaça, e desfia Deus para a luta. O que é isso, Patrão? Me diga?
[ ... ]






¹ - Zorba, o Grego (Zorba, the Greek) de Nikos Kazantzakis. Trad. Edgar Fflexa Ribeiro e Guilhermina Sette. São Paulo. Abril Cultural. janeiro de 1974. 1ª edição. 369 páginas. {trecho extraído da página 69}

² - Santo Cretense, informação encontrada à página 73, de onde foi extraído o trecho.