16 de outubro de 2014

Romas Kalanta

O Sacrifício de Romas Kalanta
Jonas Jakatanvisky. São Paulo. 123 páginas. 2001. Edição alternativa, personalizada e limitada.

Sinopse / Ponderação:
Alguns fatos históricos devem ser, sempre, comentados e relembrados por historiadores para não serem repetidos. Tenho minhas dúvidas a respeito. Vejo muita coisas serem repetidas, principalmente, a questão do Oriente Médio e a constante tentativa de acabar com a liberdade. Esse dom maravilhoso de poder dado ao ser humano, onde alguns se acham no direito de coibir a livre escolha do ser humano.
Enquanto, vivíamos nossa própria censura, em 1972, o mundo girava e girava mesmo. Antes, iremos lá na frente, Pequim, 04 de junho de 1989, um grupo de estudantes resolvem lutar pela liberdade. Aquela imagem do rapaz em frente ao tanque de guerra varou o mundo e, ainda, hoje ela é reproduzida para marcar a ousadia estudantil chinesa para a libertação daquilo que é mais sagrado no ser humano - a liberdade; Massacre da Paz Celestial. Adiante, 2014, região da Crimeia, Ucrânia, a Russia tentando dominar o pequeno país, limitando a liberdade de nossos irmãos.
Retornando, O Sacrifício de Romas Kalanta Onde?... Como?... Por quê?... Revelações sobre a auto-imolação acontecida em Kaunas, Lituânia, em 1972. Ok! Não entenderam... Diferentemente, do que venho postando, desejo apresentar um  pequeno motivo: Há na Vila Zelina um grupo denominado por AMOVIZA, tentando apagar as memórias do bairro, tipicamente Lituano. Por quê? A resposta está sendo em forma de pé de guerra... Esse livro foi uma novidade para mim. A História do povo lituano, ainda, possui muitos fatos para serem descobertos e recontados de maneira não oficial.
A seguir, alguns trechos.

Página 12 - Dramatização baseada na entrevista concedida por Elena Kalantiene (mãe de Romas) ao jornalista Algis Petrulis, sendo publicada no semanário GIMTASIS KRASTAS edição nº 2 (1139) em Vilnius, 12 a 18 de janeiro de 1989, sob o título Romas Kalanta, Lauzas Atgimimo nakti.

Páginas 15 e 16 - "Quando o saudoso padre Pranas Gavenas me pediu que rezasse pela libertação da Lituânia, rezei por rezar.
Já havia lido os 'Cânticos do Martírio lituano', estava muito comovida com o clamor dos poetas deportados para a Sibéria, mas era tempo de guerra fria, tempo do muro de Berlim, e a própria violência e crueldade com que o comunismo se instalara no país e fazia descrer que fosse possível à pequena Lituânia recobrar muito breve suas fronteiras, sua bandeira, seu hino, seu idioma, sua  nacionalidade própria.
Estava enganada. Não sabia que em 1972, um jovem chamado Romas Kalanta havia ateado fogo em seu próprio corpo, em local público, clamando por liberdade para Lituânia. E que seu gesto, fosse causado por mente doentia, ou por exacerbado patriotismo, havia acordado na mente do povo já descontente, um ardoroso anseio de liberdade.
Só através deste livro, escrito por meu amigo Jonas Jakatanvisky, está sendo capaz de avaliar o que realmente se passava por lá.
Agora eu rezo, pedindo a Deus que o sacrifício de Romas Kalanta, tenha a causa que tiver, reverta em benefícios para aquele povo tão sofrido.
Campinas, 16 de abril de 2001, Ana Suzuki."

Página 19 - Expostos os fatos desde o nascimento de Romas, foram acrescentados outros estudos e considerações para que o leitor pudesse formar a sua própria opinião quanto ao por quê?... da sua fatídica decisão de se imolar em praça pública.

Página 21 - A intenção deste trabalho foi não ir além de procurar expor fatos acontecidos na Lituânia, um dos 15 países que ainda formavam a ex-URSS - União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, na década de 70, quando um jovem se imolou. Na época, os fatos divulgados eram suspeitos por estarem sujeitos a se enquadrarem nas normas de segurança do socialismo.
Considerando-se que muitos descendentes de lituanos não dominam a língua dos pais, este trabalho serve para, de alguma forma informa-los sobre aquilo que aqui no Brasil somente pode ser encontrado em lituano e em inglês.

Página 33 - Romas tinha a mania de desenhar cruz, fogo e gente. Por que sentiria prazer nisso? Era uma obsessão, uma compulsão. Assim como uns gostam de pintar paisagens, outros preferem retratos, outros mulheres nuas, outros...

Página 34 -  Quando na 11ª série, em resposta à pergunta:
- Kuo galvoji buti?
Respondeu:
- Kunigu!
Traduzindo:
- O que pretende ser?
- Padre!
Ele responde de forma seca e categórica, sem meios termos.
Como poderiam os diretores e professores aceitar tais idéias? O que poderiam fazer para isolar tais influências de propaganda religiosa considerada "nociva" sobre as crianças?
Sobrava para o pai de Romas:
- Ka tu, tevai, isauklejai?
O que quer dizer:
- O que é que você, pai, educou?
A pergunta ficava sem resposta.
O tempo iria passar e ele ouviria sempre a mesma pergunta. E ele ficava sempre sem resposta que agradasse aos interrogadores. O mais curiosos é que jamais iria entender por que achavam que o seu filho era um "subversivo" Nessa idade?... 

Páginas 38 - Romas protestava contra a falsidade. Achava que todos se "camuflavam" quando falavam, como se vestiam e se olhavam. Fosse ele, filho de um alto funcionário do partido, da cúpula, seria considerado como um garoto extremamente inteligente, extrovertido e para rimar, até mesmo divertido. Mas, não era esse o seu caso. Por isso, não passava de um "doido americanófilo".

Páginas 40 e 41 - Resumo: A namorada de Romas se chamava Lina, namoro não durou muito. Fragmentos do que poderia ser um desabafo: Não culpem ninguém pela minha morte. Eu sabia que mais tarde ou mais cedo teria que fazer isso. Não suporto o sistema socialista. Eu não sou útil para ninguém. Para que viver mais. Para que este sistema me mate? É melhor que eu mesmo... Vejam, ele havia nascido dentro da vigência do sistema socialista.

Página 46 - Inspira profundamente e, como num ritual, cuidadosa e decididamente se encharca de gasolina diante do olhar dos transeuntes surpresos e atônitos que procuram se aproximar sem saber que atitude tomar.
- Meu Deus, o que está acontecendo? - exclama um perplexo.
O primeiro palito de fósforo não acende...
Tremendo, desajeitadamente, pois o odor da gasolina o sufocava, risca o segundo.
Este não falha.
A chama sobe alto, envolvendo-o em tons amarelos, verdes e vermelhos, como se estive rodeado por ninfas flamejantes a bailar.
Ainda de pé, os braços erguidos com os punhos fechados, ele brada conscientemente:
LAI-SVE LIE-TU-VAI!...
(LI- BER-DA-DE À LI-TU-Â-NI-A!...)

Não resistiu, falece em 15/05/1972.

Página 57 - LIBERDADE PARA A LITUÂNIA!!!!
Eram essas as palavras de ordem em todos os órgãos de divulgação num ostensivo desafio à censura. Assuntos adormecidos, mantidos sob controle pela força policial, foram despertados: ideais de humanismo, direitos humanos, além de... liberdade para a Lituânia e para os lituanos.
A inusitada tocha humana chamada Romas Kalanta serviu para recrudescer o que jamais havia sido definitivamente erradicado. O anseio pela liberdade que estava latente veio à tona. O nacionalismo se manifestava.



Hoje, 07 de outubro de 2016, papai do céu mandou buscar o autor desse livro e quem através  de seu conhecimento, pode divulgar para as novas gerações, como era viver sem liberdade.



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