28 de junho de 2018

O Vermelho e o Negro

O Vermelho e o Negro
Stendhal (Henri-Marie Beyle ~ 1783-1842). Trad. Raquel Prado. Porto Alegre. Dublinense. 2016. 544 páginas.

Sinopse:
Publicado na França pós-napoleônica, O Vermelho e o Negro é um clássico da literatura mundial. A obra narra a trajetória de Julien Sorel, um ambicioso filho de carpinteiro que faz de tudo para ascender socialmente. Inferior de berço, precisa revestir sua revolta com polidez seus interesses com paixão, sua hipocrisia com inocência e assim lutar contra a opressão e os preconceitos da exclusivista sociedade francesa do início do século XIX.

Ponderação:
As análises apresentadas ao final, não representam a opinião da nossa administradora. Simples, uma maneira de mostrar como uma obra clássica funciona no século XXI.
Uma narrativa que mostra as sutilezas e o jogo de máscaras da alta sociedade de então, a nobreza francesa. Apresenta o preconceito que o homem letrado possuía no meio rural. O valor do trabalho físico era bem aceito. Recebe aulas com o padre do vilarejo, tornando-se seu protegido. Esse romance psicológico de Stendhal é atemporal. Psicológico não é bem o termo, pode-se dizer mais, apropriadamente, o autor criou a "Achoterapia" tamanha são os pensamentos do protagonista em considerar atitudes alheias, que poderiam ser reais, mas ao final não se apresentam, concretamente, o mundo como é. Nem foi preciso traçar paralelo com as hipocrisias de nosso cotidiano. E, mais, até em literatura recente, reagimos com uma pequena comparação, em Limonov, post de 15/01/2018. Um jovem, Julien Sorel, que ora quer ser clérigo (manto negro) ora quer ser soldado do exército (vestes vermelha); únicas possibilidades de ser bem sucedido, não consegue encontrar um equilíbrio entre hipocrisia e status social.  A gravidez de Matilde não convenceu.


Análises:

1) Luiz Ruffato assim descreveu o livro: "Egoísta e ambicioso, Julien Sorel usa, sem escrúpulos seu charme e simpatia para galgar um lugar na exclusivista sociedade francesa pós-napoleônica. É um monumento do realismo psicológico."


2) "Julien Sorel é o ambicioso filho de um carpinteiro que sonha com a grandeza e não suporta a vida enfadonha que seu nascimento impôs. Sob o comando de Napoleão, seu modelo de força e saúde, Julien acredita que poderia ter feito fortuna, vivido paixões e ganhado as mais altas honrarias, possibilidades oferecidas aos jovens que mesmo tendo nascido em classe desprivilegiada, poderiam ascender pela  coração de usar a espada. Porém, devido a uma época em que Napoleão já faz parte do passado, cedendo espaço ao aristocratismo da Restauração monárquica, Sorel não vê alternativas de evolução social senão no seminário. Mesmo sem ter fé alguma, troca o exército (o Vermelho)  pela batina (o Negro), dedica-se ao latim e decora a bíblia por inteiro, lançando-se na carreira eclesiástica e comprando o único possível bilhete de entrada para a vida aristocrática."


3) "(...) Por que Julien faz tudo isso? Porque sua mistura de baixa auto-estima e ambição o impele. Julien, o filho mais inteligente de um carpinteiro, quer, acima de tudo, deixar para sempre o ambiente da casa dos pais, o campesinato. Ele quer chegar ao topo da sociedade. Seu grande exemplo é Napoleão Bonaparte - o soldado que veio da Córsega e que se alçou às alturas da França com sua ambição, chegando a se autonomear imperador. Mas, na era pós-napoleônica, Julien não consegue colocar sua coragem de soldado à prova. Em vez disso, consegue apenas empreender uma batalha de conquista contra a sociedade, e considerar suas mulheres das classes altas como objetivos a serem conquistados em primeiro lugar. A primeira é madame de Rênal. Como estrategista em tempo de paz, Julien não é soldado, mas um político nas questões do amor.
     Julien ingressa na carreira eclesiástica - não que seja especialmente devoto, mas é  que lá estão as melhores chances de carreira. O caminho leva a Paris e, de lá, para cima: Julien torna-se secretário particular do marquês de La Mole. Ali encontra Matilde, a filha rebelde da casa, que está fascinada por Julien, pois ele é diferente de todos os homens que ela conhece. Matilde é o segundo sucesso significativo de Julien. A sedução mútua se dá de  maneira tão rotineira quanto o primeiro encontro com madame de Rênal: de novo Julien está terrivelmente inseguro e tímido - mas, de qualquer maneira, ele cita um  trecho de Julia ou A nova Heloísa, de Rousseau, e mostra que tem coração. Ele começa um caso com Matilde. Grávida, Matilde convence o pai a elevar Julien à nobreza. Julien está no ápice de seu sucesso.
      (...)
     Julien é um herói repleto de contradições. Ele ocila  constantemente entre o oportunismo político e a vulnerabilidade, entre a honestidade e os disfarces. Julien não é um hipócrita especialmente bem dotado. Nada lhe é mais penoso que a dissimulação. Parece indefeso exatamente nas situações em que age como um grande estrategista. Julien usa as mulheres para se impulsionar para a frente, mas a arte da sedução estratégica é levada ao absurdo. O amor precisa de um plano de comportamento, mas cálculos frios são incompatíveis. Dessa maneira, diante do autor, o amor não é sempre espontaneidade e honestidade, tampouco pura hipocrisia.


4) "Julien Sorel em "O Vermelho e o Negro" de Stendhal. Como filho de um carpinteiro, ele sabe pouco do mundo da alta arte. Por sorte, porém, é abençoado com uma sensibilidade naturalmente refinada e, quando se encontra com a beleza, ele desmaia. Com um pouco da ajuda de livros e de uma memória fotográfica, ele impressiona  imensamente seus patrões quando se torna tutor de uma família elegante e começa a conviver com a elite aristocrática."






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2)  = Revista Tag, de julho de 2016.
3)  = Livros: Tudo o que você não pode deixar de ler. Bücher: alles was man lesen muss. Christiane Zschirnt. Trad. Claudia Abeling. São Paulo. Globo. 2006. 392 páginas. [1ª ed. 2006 ~1ª reimp. 2007]
4)  = Farmácia Literária. The novel cure: An A-Z of Literary Remedies. Ella Berthooud e Susan Elderkin. Trad. Cecília Camargo Bartalotti. Campinas. Verus. 2016. 374 páginas. 1ª ed.



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