29 de julho de 2020

Sul da Fronteira, oeste do sol

Sul da Fronteira, oeste do sol
Kokkyo no Minami, Taiyo no Nishi. Haruki Murakami. Trad. Rita Khol. Rio de Janeiro. Alfaguara. 2020. 230 págnas.

Sinopse:
Na primeira semana do primeiro mês do primeiro ano da segunda metade do século XX, ao protagonista, que também faz as vezes de narrador, é dado o nome de Hajime, que significa início. Filho único de uma normal família japonesa, Hajime vive numa província um pouco sonolenta, como normalmente todas as províncias o são.
Nos seus tempos de rapazinho faz amizade com Shimamoto, também ela filha única e rapariga brilhante na escola, com quem reparte interesses pela leitura e pela música. Juntos, têm por hábito escutar a coleção de discos do pai dela, sobretudo South of the Border, West of the Sun, tema de Nat King Cole que dá título ao romance. Mas o destino faz com que os dois companheiros de escola sejam obrigados a separar-se.
Os anos passam, Hajime segue a sua vida. A lembrança de Shimamoto, porém, permanece viva, tanto como aquilo que poderia ter sido como aquilo que não foi. De um dia para o outro, vinte anos mais tarde, Shimamoto reaparece certa noite na vida de Hajime. Para além de ser uma mulher de grande beleza e rara intensidade, a sua simples presença encontra-se envolta em mistério. Da noite para o dia, Hajime vê-se catapultado para o passado, colocando tudo o que tem, todo o seu presente em risco.

Ponderação:
Temos pouco contato com a literatura japonesa. Quando esse chegou, colocamo-nos de guarda. A nossa experiência com ela não tem uma áurea positiva. Mas, essa edição possui uma informação interessante: - o posfácio da tradutora!
O texto, embora, bastante pessoal, permite extrair lições e traz-nos lembranças de leituras realizadas - de obras traduzidas, - onde era difícil prosseguir na leitura - (abrimos esse parênteses - principalmente - obras da chamada 'técnico-didático', as quais somos obrigados a ler.). Ela tem razão, a opção do tradutor no processo tradutório, na adequação  da língua original para a  final (português) poderá definir aceitação ou não da obra pelo leitor. Colocamos, também, outro item: o projeto gráfico, ponto inerente no desenvolvimento da leitura.
Hajime é irritante como personagem de ficção, é tedioso, fruto da indignação vazia. Procura fora o que há dentro de si próprio. Narra de forma subjetiva ou seria objetiva  as transformações locais, universais dos anos 1960 até 1990.
O romance merece atenção, em parte no primeiro capítulo, depois arrasta, perde o encanto. Desmotiva ou emerge da filosofia; aposta na escolha de cada um ou desqualifica.
Ao chegar no capítulo final, percebe-se um "talvez" de possibilidade sobre a existência "real" de Shimamoto, enquanto sua real existência  no início. Izumi foi ou é uma miragem. Yukiko é pé no chão. Pela janela, ele "sempre" observa o cemitério. Talvez seja o ponto desértico da relação de Hajime com o Universo.

"Tudo o que tem forma física cedo ou tarde desaparece. Mas há um tipo de sentimento que dura para sempre."

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