4 de março de 2019

O Coração é um Caçador Solitário

O Coração é um Caçador Solitário
The Heart is a Lonely Hunter. Carson McCullers (1917 - 1967). Trad. Sonia Moreira. São Paulo. TAG / Cia das Letras. 2018. 392 páginas.

Sinopse:
Numa cidadezinha do sul dos Estados Unidos, no final dos anos 1930, os efeitos da Grande Depressão ainda se fazem sentir. Personagens como Biff Brannon, dono do restaurante que nunca fecha na cidade; a garota Mick, forçada a passar abruptamente da infância à idade adulta; o agitador marxista Jake Blount; o médico negro Benedict Copeland, que atende de graça os pacientes pobres e luta pela emancipação racial, enfrentam, além da carência material, o flagelo da solidão e da incomunicabilidade.
O centro desta narrativa, em que cada capítulo assume o ponto de vista de um personagem, é o mudo John Singer, um homem triste e solitário, que por sua serenidade enigmática é visto como um santo pela comunidade.

Ponderação:
Temos o seguinte:
- Spiros Antonapoulos = mudo. Propenso à obesidade e com desequilibro mental de aprendizado.

- John Singer = mudo. Culto para os padrões do local. Conhecedor da linguagem labial.

Ambos são amigos, a comunicação entre eles é através de libras. Dois solitários no mundo hostil. Um dia! Sempre assim. Um dia, Antonapoulos é  enviado para o asilo; amizade bruscamente interrompida. Agora a história da comunicabilidade dos habitantes da cidade vem a tona. Todos, de uma maneira ou outra, encontram-se na marginalidade da vida, onde os sonhos são apenas sonhos. Os desejos são apenas desejos. As dificuldades em externar esses sonhos e desejos permitem avaliar a grandiosidade narrativa. Num texto agressivo, sensível, filosófico, um pouco doutrinário.
John Singer torna-se uma espécie de herói, um confessor. Não consegue entender, aquilo das palavras que são ditas ao seu ouvido, ele acaba por ser gentil e caridoso tanto para brancos como para negros.

- Charles Parker = primo  de Antonapoulos.

- Biff Brannon = dono do New York Café. Marido de Alice. É um bom observador do ambiente. Vai desabafar sempre que pode com Singer.

- Jake Blount = agitador de plantão. Calado quando sóbrio, mas super falante após uma garrafa de uísque. Fala para os iletrados sobre a teoria marxista sobre os direitos deles e da injustiça dos ricos, porém não é compreendido nem mesmo por Singer.

- Mick Kelly = menina sonhadora. Apaixona-se por Singer, após ele adquirir um rádio. O que ela não entendeu.

- Benedict Mady Copeland = médico e pai  de Portia. Extremamente culto! Por ser o único negro em condições de auxiliar seus semelhantes negros, se acha melhor de qualquer branco. É um grande leitor. Considerava possuidor do 'genuíno propósito', sem definir o que seja. Na Festa de Natal pronuncia um discurso falando sobre Karl Marx, ao seu povo, pouquíssimos entenderam suas palavras. Porém um homem branco, presente à festa, compreendeu ou  fez que sim; John Singer.

John Singer em sua inadequada situação, tenta entender os segredos de cada um. Seu olhar contribui no apaziguar das almas inquietas de cada pessoa. O guardião dos segredos.

O dialogo entre Jake e Copeland sobre o trabalho, capitalismo; o certo e o errado esta a beira do humor negro. É hilário, é como ouvir uma discussão entre os partidários do PT e PCB.

A comunicabilidade entre eles leva a uma incomunicabilidade decorrente da solidão vivida por cada um, onde dentro do possível, encontramos compreensão, discriminação e a procura do amor. No fim a dura realidade prevalece e nada é perpetuado.


 

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