15 de abril de 2018

Zorbás

Vida e Proezas de Aléxis Zorbás
Bio kai politeía toú Aléxi Zorbá. de Nikos Kazantzákis (1883-1957). Trad. Mariza Ribeiro Donatiello e Silvia Ricardino. SP. Grua. 2011. 381 páginas.

Sinopse:
A história é narrada por um intelectual grego que, depois de ser chamado de "roedor de papéis" pelo grande amigo Stavridákis , decide lançar-se em uma empreitada arrojada: explorar uma mina de linhito em Creta. Num bar do porto, pouco antes de embarcar, conhece Aléxis Zorbás, a quem contrata para chefiar os trabalhos. Ao chegar à ilha, instalam-se temporariamente na casa de Madame Hortense, uma velha atriz do amor francesa que vive de seu passado e que logo cede aos encantos do empregado-chefe. De dia, enquanto Zorbás comanda os operários na mina, o narrador se enfurna em sua jornada interna banhada pelo mar Líbio e materializada no manuscrito que escreve. À noite, enquanto come a sopa preparada por Zorbás, ele fica a escutar suas histórias, ouvindo-o tocar seu santir, vendo-o dançar as coisas que não consegue expressar com palavras. Suas mulheres, as guerras que viveu, suas certezas, suas dúvidas, suas loucuras. 
O conflito entre alma e corpo, ou espírito e carne, ou divindade e homem, é um dos pilares da obra de Nikos Kazantzákis. A ele, o narrador é lançado com força através de confrontos de visão de mundo que irão remodelar seu modo de pensar. O resultado é uma nova dimensão de compreensão da alma humana, algo infestado de vida, algo que os livros não puderam lhe dar. 
"Vida e Proezas de Aléxis Zorbás" consegue ser ao mesmo tempo um romance de aventura, que se lê com febre, e um romance de formação, que transforma. Como em todo grande livro, sua leitura não é apenas uma experiência literária de excelência, é uma experiência de vida.

Ponderação:
Zorbás é uma narrativa que mostra através de um realismo literário a identificação da realidade com temas da consciência da arte; o trivial e mesquinha da existência humana, na rotina rude, até inculta de um povo. A dramaticidade em algumas cenas, provém da influência mitológica dos gregos.
Zorbás é rude, mas é a  alma sábia no peito do intelectual roedor de papeis. Enquanto vai espalhando suas palavras, quando ao ponto de ebulição, começa uma dança levada a sério a ponto de sentir-se leve igual a um pássaro.
Aparentemente, não há uma tradição de ler uma mesma obra, mas com tradução diferente. Muita das vezes isso é fato comprovado, a tradução define ser agradável ou não a leitura de um romance. Embora, Zorbás, esteve mais harmonioso na edição de 2011, o processo tradutório foi mais poético do que a edição de 1974¹.
A comparação feita por Zorbás, de si próprio com Zeus, o deus namorador, é hilária. A celebração à liberdade e amizade.

Capítulo 4
[ ... ]   - O que é afinal essa água vermelha, patrão?  Pode me dizer? Um cepo ordinário da brotos, nele ficam pendurados uns badulaques ácidos, o tempo passa, o sol os faz amadurecer, tornam-se doces como mel, e então os chamamos de uvas; pisamos essas uvas, tiramos se suco, colocamos em barris, ele fermenta sozinho, abrimos em outubro, na época de São Jorge Bebedor², e sai vinho! Que prodígio é esse, afinal? Bebemos o suco vermelho, e a alma cresce, não cabe mais em sua carcaça ordinária, desfia Deus para a luta. O que é isso tudo, patrão? Pode me dizer?
[ ... ] 


Capitulo 4¹
[ ... ]  - O que é essa água vermelha, patrão? me diga! Uma velha videira deita ramos, tem uns penduricalhos ácidos que pendem, passa o tempo e o sol os amadurece; eles ficam doces como o mel e então passam a chamar uvas; são apanhados, esmagados, o suco é colocado em tóneis, ele fermenta sozinho, são abertos no dia de São Jorge-Beberrão, e virou vinho! E o que é ainda esse prodígio: você bebe esse suco vermelho e eis que sua alma cresce, não cabe mais na velha carcaça, e desfia Deus para a luta. O que é isso, Patrão? Me diga?
[ ... ]






¹ - Zorba, o Grego (Zorba, the Greek) de Nikos Kazantzakis. Trad. Edgar Flexa Ribeiro e Guilhermina Sette. São Paulo. Abril Cultural. janeiro de 1974. 1ª edição. 369 páginas. {trecho extraído da página 69}

² - Santo Cretense, informação encontrada à página 73, de onde foi extraído o trecho.




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