A Vida em tons de cinza
Between shades of gray. Ruta Sepetys. Trad. Fernanda Abreu. São Paulo. Arqueiro. 2011. 240 páginas.
Sinopse:
1941. A União Soviética anexa os países bálticos. Desde então, a história de horror vivida por aqueles povos raras vezes foi contada. Aos 15 anos, Lina Vilkas vê seu sonho de estudar artes e sua liberdade serem brutalmente ceifados. Filha de um professor universitário lituano, ela é deportada com a mãe e o irmão para um campo de trabalho forçado na Sibéria. Lá, passam fome, enfrentam doenças, são humilhados e violentados. Mas a família de Lina se mostra mais forte do que tudo isso. Sua mãe, que sabe falar russo, se revela uma grande líder, sempre demonstrando uma infinita compaixão por todos e conseguindo fazer com que as pessoas trabalhem em equipe. No entanto, aquele ainda não seria seu destino final. Mais tarde, Lina e sua família, assim como muitas outras pessoas com quem estabeleceram laços estreitos, são mandadas, literalmente, para o fim do mundo: um lugar perdido no Círculo Polar Ártico, onde o frio é implacável, a noite dura 180 dias e o amor e a esperança talvez não sejam suficientes para mantê-los vivos. A vida em tons de cinza conta, a partir da visão de poucos personagens, a dura realidade enfrentada por milhões de pessoas durante o domínio de Stalin. Ruta Sepetys revela a história de um povo que foi anulado e que, por 50 anos, teve que se manter em silêncio, sob a ameaça de terríveis represálias.
Ponderação:
Esse livro, mesmo com suas falhas, tenta o resgate de uma História, para conhecimento do que foi a vida de muitos lituanos, como toda a região báltica. O texto Lina Vilkaite, publicado em 30/09/2012, no allagumauskas.blog.uol.com.br, desativado, em 2018, vale uma leitura. E, mais, a trajetória de Lina é leitura obrigatória para os descendentes de lituanos espalhados pelo o mundo afora. A transcrição abaixo. Hoje, 01/10/2020.
Lina Vilkaite
Estou, aqui, sentada na tentativa de ordenar as idéias e juntar os elos comparativos e discordantes de uma história misteriosa saída da mente de um cordeiro com alma demoníaca. E, por isso, o 14 de junho é festejado como o Dia do Luto na Lituânia e nas comunidades lituanas e seus descendentes espalhados pelo mundo. Se todos sabemos mais de Hitler e menos de Stalin é porque há uma diferença – Revanche, Os judeus foram a revanche, os lituanos não.
Assisti ao vídeo de apresentação,[1] de Ruta Sepetys, mas ela pareceu-me estranha no quesito explicar os fatos. As pessoas que foram privadas da liberdade como dos povos bálticos não gostam de falar, por medo de retornarem a viver, novamente, dor e sofrimento. Também, li os cinqüenta e oito comentários/resenhas[2], a maioria ficou na abordagem de Lina e sua perca na realização de seus sonhos, liberdade e Stalin.
Faz duas semanas, que estou tentando escrever este texto. Porque tem falhas na forma de contar e recontar uma história perdida, escondida na memória de alguns ou, talvez, enterrado em algum lugar.
A tradução cometeu alguns enganos, não há nenhuma “nota do tradutor”[3] explicando por exemplo NKVD ou Gulags[4]. Estamos falando de história com peculiaridades definidas e não somente aos lituanos e seus filhos, netos e bisnetos. Ruta e/ou tradutor estava contando e recontando fatos para um Universo bem maior. Já que é retratada parte da história de um povo báltico. Os nomes lituanos não são grifados da maneira ocidental, obedecem a regras diferenciadas da nossa. Só como exemplo, pois há uma infinidade de regras e regrinhas, vejamos:
Lina Vilkas, lá funciona assim: Kostas Vilkas (pai – homem), Jonas (irmão – homem), Elena Vilkiene (mãe – mulher casada), Lina Vilkaite (filha – mulher solteira)[5]. Mais informação não encontrei no final do livro, alusão a adoção ocidentalizada dos nomes e pedi auxilio a Adilson Puodziunas (Membro ativo da Comunidade Lituana de São Paulo, em Vila Zelina).
O terror espalhado por Stalin não só esta no caminho dos povos bálticos, mais em auxilio a Franco (Espanha) durante a Guerra Civil. O capítulo 6 de “O ano da Leitura Mágica”, Nina Sankovitch relata o pânico de sua avó paterna deve ter sentido e, se poupado, do brutal assassinato de três de seus tios pelos soviéticos.
Ao terminar de ler, deu para perceber o pavor de muito de nossos avós, tios, bisavós sentiram em terras do continente americano com, de leve, a possibilidade de deportação para a então URSS e ir aos gulags e Sibéria.
Careca, que primeiro entregou a família de Lina ao NKVD paga pelo seu erro. Nikolai Kritzsky e Dr. Samadurov são exemplos, do lado russo, de humanidade, mesmo arriscando suas próprias vidas. Num universo de, aproximadamente, cinqüenta personagens, temos a dimensão do estrago feito a um povo.
Nos vários flashes backs, há um, onde Lina faz referência a uma citação de Edvard Munch e sua pintura – “Do meu corpo apodrecido brotarão flores e estarei nelas e é isso a eternidade.” - A pintura do pintor fez com que Lina observasse o ‘cinza’. É o mesmo que revela a visão da capa – a planta é a esperança crescendo em meio ao horror no frio e na neve.
A esperança foi o combustível do povo que sobreviveu, provando o surgimento do amor e solidariedade até, mesmo, nos dias cinza, mesmo quando tudo estava contra.
Poderia ter mais algumas páginas, descrevendo acontecimentos entre 1942 e 1954, o momento do reencontro de Lina e Andrius, o destino de Jonas e Janina.
[1] SEPETYS, Ruta. A vida em tons de cinza. Trad. Fernanda Abreu. São Paulo, Arqueiro. 2011. 240 páginas.
[2] www.skoob.com.br- site de relacionamento de amantes da leitura.
[3] Como tradutora (sou Bacharel em Letras: Habilitação – Tradução em Espanhol-Português) colocaria todas as notas fossem necessárias.
[4] NKVD – Comissariado do Povo para assuntos internos, Ministério do Interior. Gulags – Sigla em russo para Administração Central das prisões e campos de trabalho {Pág. 49 – “Os grandes mistérios do Passado” in: Raul Wallenberg: desaparecido.; 1996, Seleções do Reader’s Digest, Rio de Janeiro}
[5] Desde tempos imemoráveis os lituanos fazem a variação do sufixo do sobrenome das mulheres para identificar três situações: a família a que ela pertence (aqui no exemplo, Vilkas); se ela é solteira, o sobrenome sofre a variação para Vilkaite; se ela é casada, então é Vilkiene. Pois a terminação a identifica como sendo esposa de um homem pertencente a uma família de sobrenome Vilkas. Esse costume é ligado à lei lituana que rege essas variações de sobrenome, valendo dizer que além de ser um antigo costume, como disse, essas terminações são também legais e jurídicas. Fora o que foi dito acima, não há outra opção de variação de sobrenome para mulher. A título de curiosidade em algum momento que já não mais me recordo, li nos jornais interativos da Lituânia o desejo de alguém em uniformizar essas terminações para uma única, isto é, a mulher ter a mesma terminação do sobrenome de sua família (ou de solteira ou de casada). Mas a intenção não foi adiante e permanece como expliquei acima. {consulta a Adilson Puodziunas}
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