Sul da Fronteira, oeste do sol
Kokkyo no Minami, Taiyo no Nishi. Haruki Murakami. Trad. Rita Khol. Rio de Janeiro. Alfaguara. 2020. 230 págnas.
Sinopse:
Na primeira semana do primeiro mês do primeiro ano da segunda metade do século XX, ao protagonista, que também faz as vezes de narrador, é dado o nome de Hajime, que significa início. Filho único de uma normal família japonesa, Hajime vive numa província um pouco sonolenta, como normalmente todas as províncias o são.
Nos seus tempos de rapazinho faz amizade com Shimamoto, também ela filha única e rapariga brilhante na escola, com quem reparte interesses pela leitura e pela música. Juntos, têm por hábito escutar a coleção de discos do pai dela, sobretudo South of the Border, West of the Sun, tema de Nat King Cole que dá título ao romance. Mas o destino faz com que os dois companheiros de escola sejam obrigados a separar-se.
Os anos passam, Hajime segue a sua vida. A lembrança de Shimamoto, porém, permanece viva, tanto como aquilo que poderia ter sido como aquilo que não foi. De um dia para o outro, vinte anos mais tarde, Shimamoto reaparece certa noite na vida de Hajime. Para além de ser uma mulher de grande beleza e rara intensidade, a sua simples presença encontra-se envolta em mistério. Da noite para o dia, Hajime vê-se catapultado para o passado, colocando tudo o que tem, todo o seu presente em risco.
Ponderação:
Temos pouco contato com a literatura japonesa. Quando esse chegou, colocamo-nos de guarda. A nossa experiência com ela não tem uma áurea positiva. Mas, essa edição possui uma informação interessante: - o posfácio da tradutora!
O texto, embora, bastante pessoal, permite extrair lições e traz-nos lembranças de leituras realizadas - de obras traduzidas, - onde era difícil prosseguir na leitura - (abrimos esse parênteses - principalmente - obras da chamada 'técnico-didático', as quais somos obrigados a ler.). Ela tem razão, a opção do tradutor no processo tradutório, na adequação da língua original para a final (português) poderá definir aceitação ou não da obra pelo leitor. Colocamos, também, outro item: o projeto gráfico, ponto inerente no desenvolvimento da leitura.
Hajime é irritante como personagem de ficção, é tedioso, fruto da indignação vazia. Procura fora o que há dentro de si próprio. Narra de forma subjetiva ou seria objetiva as transformações locais, universais dos anos 1960 até 1990.
O romance merece atenção, em parte no primeiro capítulo, depois arrasta, perde o encanto. Desmotiva ou emerge da filosofia; aposta na escolha de cada um ou desqualifica.
Ao chegar no capítulo final, percebe-se um "talvez" de possibilidade sobre a existência "real" de Shimamoto, enquanto sua real existência no início. Izumi foi ou é uma miragem. Yukiko é pé no chão. Pela janela, ele "sempre" observa o cemitério. Talvez seja o ponto desértico da relação de Hajime com o Universo.
"Tudo o que tem forma física cedo ou tarde desaparece. Mas há um tipo de sentimento que dura para sempre."
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